A Arte Urbana vai ao Monte da Fonte Santa (Alandroal)

 

A Arte Urbana vai ao Monte da Fonte Santa

Alandroal

                              Vhils: finaliza a muralização de um rosto na cal do Monte da Fonte Santa

 O Conceito

A Arte Urbana, Street Art, é de difícil definição na medida que cada vez mais artistas escolhem a rua, os espaços abertos para reinventar as formas de intervenção artística. A rua, enquanto espaço público, obriga o artista a usar técnicas, métodos e metodologias de trabalho por vezes bastante complexas.

Os artistas de(a) rua, de arte pública, quer no grafitti, quer na instalação, usam suportes completamente inusitados, paredes, muros, taludes, locais abandonados e múltiplos meios para apoiar a sua criação, o computador, a fotografia e, materiais e ferramentas que vão do tradicional pincel,  passando pelo spray até ao mais potente martelo pneumático. Envolve o uso e maneio de andaimes, escadas, panos, cordas, extensões e por vezes gruas elevatórias.

Convocaram outras formas de arte, como a escultura, a pintura, a fotografia, o vídeo … São neste século XXI muitos são os polos de criação e genialidade que beberam na arte conceptual, na Land Art, na Instalação, inspiraram-se em Christo e Jeanne Claude, em Hans Haacke, Nan Hoover, só para referir alguns nomes… Enfim, estes artistas beberam de várias fontes e de boa água. Foram abençoados! E chegaram aqui a este Monte da Fonte Santa…

                                            Bordalo II. O seu lince no Parque das Nações... 

Vhils, AAD Fuel, Bordalo II e Odeith no Monte da Fonte Santa

Este grupo de artistas que aqui aportaram ao Monte da Fonte Santa, pela mão de uma família, que tal qual mecenas renascentistas, quiseram “embelezar” o seu negócio de turismo local em meio rural. É do melhor que podia acontecer no mesmo espaço: uma referência de arte urbana no Campo, no Alandroal, que deve estar agradecido! Eu, pessoalmente estou… também sou daqui!

O criativo martelo pneumático de Vhils avançou contra a Cal do monte com uma fúria destruidora de onde emergiram rostos, traços criativos de identidade, muralizou aquelas paredes de branco caiadas. Em vez de lhe retirar identidade, acrescentou-lhe memória e história. Memorial à idade, à importância do idoso na sociedade. Aqueles traços impressos na Cal e no Reboco através do rendilhado e picotado do pneumático são Alentejo, Memória e História de todos nós. Vhils, surpreende também pelas causas que abraça: agora com um mural, comprometido, de homenagem aos profissionais de saúde, no Hospital de São João, no Porto. Já muralizou nomes e causas, mas também rostos anónimos como os da Fonte Santa ou os dos Operários do Barreiro. Em todas as latitudes, Vhils muralizou gente e história, do Barreiro a Bogotá, de Nova Iorque ao Dubai, de Moscovo ao Alandroal, ao Monte da Fonte Santa. A capa da Time colocou lá o seu retrato!

                                     O mais recente trabalho de Vhils, de homenagem aos profissionais da saúde

Add Fuel, das formas geométricas da azulejaria inspirada na arte e gramática do Al-Andalus, das cores nossos do sul, tapeteou aquela parede dos arrumos agrícolas do monte. Painel Azulejar, geométrico, cromático remete-nos também para os elementos identitários da decoração das nossas casas alentejanas e para as cores da Terra árida, quente e forte. O castanho-terra, o ocre amarelado e o verde-seco. Quase que estamos perante uma imagem de Arte Mudéjar. Add Fuel fez viajar um pedaço do Alhambra ou de Córdova até ao Alandroal. Também ele hoje já viaja com a sua veia criadora um pouco por todo o lado deixando marcas no território onde age.

 
ADD Fuel. Painel azulejar nos arrumos agrícolas...

O Caracol (2 caracóis) com os corninhos ao sol, reciclado e de lixo criado, do Bordalo II é a melhor metáfora do Alentejo dolente, calmo e terno e do alentejano lento e prazeroso. Com os seus animais, Bordalo remete-nos para as questões ambientais, para a necessidade de sensibilizar para um mundo melhor. A Mãe Natureza brilha no metal daquele Caracol. Com os seus animais faz-nos pensar! Os seus animais estão hoje espalhados por todo o mundo. Bordalo II, já viajou deixando animais por todo o mundo, como o fizeram os artistas da Renascença que difundiram a sua arte por todo o lado. Bordalo II faz escola.

                                           O Caracol  de Bordalo II, na noite, como guardião do Monte da Fonte Santa...

Aquela andorinha debicando na tigela rameada com as cores azulonas, a memória da loiça artesanal, é o ponto final/inicial nesta história feliz de encontros tão geniais. Esta andorinha acabou de definir e marcar um território com alto valor estético e belo. O Monte da Fonte Santa torna-se numa (a)mostra de arte contemporânea como recurso pedagógico e educativo do gosto e da aprendizagem estética e artística. E certamente que acrescenta valor turístico. Odeith, com o seu anaformismo e recurso à tridimensionalidade, marca a paisagem de forma a ninguém ficar indiferente. Os seus bichos saltam da tela, querem falar connosco! E já falam com muita gente, milhares, em todo o mundo. O reconhecimento internacional é uma realidade.

       Odeith: A andorinha a bebericar na tigela qual colibri


Feliz encontro de génios criativos no Monte da Fonte Santa.

Fonte Santa, fonte de arte contemporânea. Estas intervenções passarão a fazer parte das referências  da Arte Urbana na História de Arte.

No mesmo epicentro, uma tela de imensa criatividade e genialidade dos caminhos da arte contemporânea. Feliz encontro! Quem queira fazer um tour iniciático na Arte de Rua/Urbana da mais vanguardista e reconhecida do mundo, tem aqui os exemplares para observar, refletir, fruir e aprender. Um Mix estético e educativo.

O idoso, o caracol, a andorinha, o painel são uma criação sensível, empenhada, de relevância cultural, social e educativa para a abordagem da problemática dos caminhos da arte na atualidade.

Todos estes criadores vieram do grafitti e continuam na rua, no espaço do agora, do público, da cidadania.

Estamos perante um conjunto artístico de grande valor que valoriza o território onde se insere o Monte da Fonte Santa: O Alentejo, o Alandroal.

Este conjunto leva-nos também a questionar se esta forma de arte é efetivamente efémera. Pode não ser, podemos acrescentar-lhe longevidade, durabilidade se a divulgarmos e protegermos por todos os meios possíveis.

O Monte da Fonte Santa, o monte de todas as formas arte…

                                                     Galeria de imagens...

Não me custa nada sugerir-lhe, amigo leitor , uma visita nas calmas… e um banho de imersão estética!

Estas cadeiras esperam por si...

Estes amigos também estão lá...

E  por aqui andam moiras encantadas.

O  tanque ecológico das águas da Fonte Santa... 

Agradeço as fotos ao Monte da Fonte Santa e ao Luís Lobato Faria.


O Monte da Fonte Santa:

https://www.montedafontesanta.com/museu-de-arte-contemporanea

Saber mais:

https://www.publico.pt/2020/06/16/p3/fotogaleria/vhils-banksy-quando-a-arte-urbana-homenageia-os-profissionais-de-saude-401541

https://viagens.sapo.pt/viajar/viajar-mundo/artigos/antes-e-depois-13-grafites-a-3d-do-artista-portugues-sergio-odeith

https://www.publico.pt/2015/09/21/p3/fotogaleria/add-fuel-o-primeiro-artista-portugues-a-conquista-de-roma-385321

https://observador.pt/2019/01/25/bordalo-ii-chegou-a-paris-com-uma-exposicao-manifesto-a-arte-pode-mudar-uma-geracao-inteira/

 

 

 


Comentários

  1. Olá, hoje passei por lá.
    Como fui surpreendida na curva ,tive, mais á frente que fazer inversão de marcha para puder apreciar o trabalho de Bordalo II. Dois belos caracóis que não passam despercebidos.

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