A Papoila Vermelha dos Campos. Bandeiras Rubras ao Vento

 

A Papoila Vermelha dos Campos. Bandeiras Rubras ao Vento

(Papaveráceas)

Nome científico: Papaver rhoeas

Popular: Papoila Vermelha, Pavão Encarnado, Erva Dormideira e Papoila das Searas.

 

Claude Monet

É uma planta espontânea, herbácea, que matiza, qual sangue rubro, os campos, os prados e as searas.

Hoje, logo que acordei, olhei pela minha janela e no canteiro do aloendro lá estavam esvoaçando delicadas, como bandeiras ao vento, as flores da papoila.

 


Papoila na Calçada

A memória dos campos e das searas do meu Alentejo levou-me a este texto sobre a Papoila Vermelha,também conhecida como Pavão Encarnado.

Anualmente, em Maio e Junho, ela apresenta-se um pouco por todo o lado, florida. Apesar da sua aparente fragilidade é uma planta resistente e resiliente que consegue vingar mesmo nos locais mais inóspitos, até na calçada da cidade.

 

Possui quatro pétalas delicadas, finíssimas, com negro no centro do “olho”, folhas muito recortadas e frutos capsulares ovoides e esburacados, por onde as sementes começam a cair e a esvoaçar propagando-se de forma abundante e com projeções a longa distância. Pode atingir uma altura de 50 a 60 cm.

Os herbicidas, em alguns locais do país, têm feito regredir a sua ocorrência.

 A Papoila na poesia

 A Papoila foi também na literatura e na poesia cantada e celebrada por muitos.


José Tolentino de Mendonça, no seu livro “ A Papoila e o Monge”, 2013, dedica-lhe este excerto:

“[…] Podes interrogar a papoila

         mas a papoila

         nada responde […]”

 Florbela Espanca, na Charneca em Flor, 1930, no poema Mocidade, contempla-a de forma comparativa:

“ […] No meu sangue rubis correm dispersos:

    - Chamas subindo ao alto nos meus versos,

      Papoilas nos meus lábios a florir![…]”

 E também no poema Passeio ao Campo, trata-a desta forma:

“[…] Há rendas de gramíneas pelos montes…

         Papoilas rubras nos trigais maduros…

        Água azulada a cintilar nas fontes… […]”

A sua ocorrência encontra-se referenciada em toda a bacia do Mediterrâneo, na Ásia, África e Europa. Contudo, a sua origem está no Médio Oriente. 

 Os poetas árabes fazem também da papoila uma inspiração para os seus versos. Os pintores usam-na também nas suas composições cromáticas e paisagísticas. Por certo, a papoila, seria uma das plantas do Jardim do Paraíso. Em termos populares, é conhecida como Erva-Dormideira, Papoila Dormideira, precisamente por induzir estados de inspiração mágicos e fantásticos do ponto criativo.

Mitologia

A papoila está também ligada à mitologia, em especial a Papaver somniferum, pois possui propriedades narcóticas e opiáceas. Eram usadas em certos rituais mágicos para induzir um ambiente calmo e sereno. 

                                            Hipnos, Deus Grego do Sono e Hipnose


Na Grécia, Hipnos, o deus do sono (pai de Morpheu), aparece junto dela nas representações icónicas e imagéticas. Hipnose e Sono.

Na mitologia Romana, a papoila aparece associada a Ceres, deusa do reino vegetal.

No Cristianismo, há também algumas representações imagéticas associadas aos momentos de paixão e de evocação da crucificação de Jesus.

 

Etnobotânica: Usos e finalidades

 A nossa papoila, o Pavão Encarnado, tem propriedades sedativas e são muito afamadas no controle dos estados de ansiedade e problemas de sono. Os alcaloides das pétalas podem ser objeto de infusão fazendo um bom chá para problemas do foro respiratório e do sistema nervoso.

                                                  

 Não se deve usar uma grande quantidade de pétalas pois, o excesso, pode traduzir-se nalguma toxicidade.

 As pétalas são mais tóxicas que as sementes. As sementes hoje estão presentes em vários produtos de pastelaria e padaria.

 As abelhas, zangões, borboletas e outros insetos procuram-na muito pela qualidade açucarada do seu pólen.

 As suas sementes também podem dar origem a óleos essenciais para a cosmética.

 Em suma, do ponto de vista medicinal, pode ser considerada como emoliente, sedativa, relaxante e peitoral.

 A sua beleza é impar e inspirou deuses, génios, pintores, poetas e escritores, e tocou de modo sensível todos os que perseguem a beleza e a simplicidade.

 Alguns territórios adotaram a papoila como elemento de identificação corporativa e institucional nos seus logotipos e materiais. Exemplo gráfico e artístico interessante é  o caso do município de Montemor  o Novo.

A memória dos campos e das searas do meu Alentejo levou-me a este texto sobre a Papoila Vermelha,também conhecida como Pavão Encarnado.

                                Foto: Rádio Campanário  Campo de papoila Branca para produção de Ópio

 Em Portugal, a Direção Geral de Agricultura autorizou e definiu regras para a produção da Papoila Opiácea (Papaver somniferum) no nosso território, tal como fez para a cultura da Cannabis.

 A finalizar com Miguel Torga, com uma referência à papoila no poema A Terra:

“[...] Na seara madura de amanhã,

Sem fronteiras nem dono,

Há de existir a praga da milhã,

A volúpia do sono

Da papoila vermelha e temporã,

E o alegre abandono

De uma cigarra vã […]


Relacionado:

https://www.fciencias.com/2012/10/19/planta-em-destaque-papoila/

http://www.drapal.minagricultura.pt/drapal/images/divulgacao/Breve_Introducao_sobre_cultura.pdf

 http://floresdoareal.blogspot.com/2012/05/papaver-rhoeas.htmlhttps://www.greenme.com.br/

http://faroleco.blogspot.com/2016/03/papoila.html



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