Arte Nova: Um cheirinho no Barreiro…

Arte Nova: Um cheirinho no Barreiro…

              Arco da janela com forma redonda e fachada arredondada... Barreiro, 1913

Conceito e História

Na transição para o século XX, entre 1880 e 1910, a Europa de um modo geral, superior, hegemónica, afirmou o capitalismo industrial e financeiro. Era colonialista e imperialista e, por tudo isto, viveu um período de felicidade esfusiante. É neste período que surge a A Arte Nova. Grande progresso, grande desenvolvimento, grande acumulação de capitais, concentração industrial, revolução nos transportes e, principalmente, no caminho de ferro. É o tempo da cultura da gare, em França. Em Portugal , com o final do Fontismo,  dá-se o desenvolvimento dos caminhos de ferro. 

Começa a receber as inflências da Arte Nova europeia.

             Fachada de azulejo arte nova na travessa do Alto de José Ferreira...

A Estação Sul e Sueste, do Barreiro da linha de comboio do sul, é um exemplo do uso de novos materiais, novas formas, da redução de arestas e aplicação de formas onduladas, presentes nos arcos das janelas, nos torreões decorativos, nas fachadas, o uso do ferro e do vidro decorativo. Anunciava-se já, aqui, na gare do Barreiro a influência exterior do modernismo europeu.

                   Estação Sul Sueste do Barreiro, o uso do vidro decorativo e do ferro...

 Período da belle époque

Artistas, desde os pintores até aos arquitetos, todos procuravam um estilo novo, revolucionário, rejeitando o passado – o historicismo da arte dita académica. Queriam o Modernismo, queriam um tempo estético único e inovador. O design, as artes decorativas, os artistas de ferro, a cerâmica, o vidro, a tapeçaria e outros complementos eram uma necessidade para afirmar a “obra de arte total”.

                       Cerâmica Rafael Bordalo Pinheiro, complexa... arte nova

Foi este movimento que acabou por receber o nome de ARTE NOVA. O objetivo era lutar contra o mau gosto da “standardização” industrial. Um pouco por toda a europa, esta preocupação estética afirmou-se de modo complexo. Mesmo por isso, imprimiu na história das artes aplicadas e na arquitetura das cidades estruturas, equipamentos, casas, recheios, acessórios deslumbrantes que distinguem e marcam a paisagem urbana.

Pelas fachadas das casas adivinhamos este estilo de múltiplas vertentes. Art Nouveau em França, Modern Style em Inglaterra, Modernismo em Espanha, Floreale em Itália, e em Portugal, apenas isto: elementos de Arte Nova como afirmação do Modernismo.

Portugal faz anunciar o Modernismo e as influências da arte deste tempo nas Conferências do Casino, em 1871, onde participaram Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Teófilo Braga, entre muitos outros para debater os novos tempos e a necessidade de modernizar o país e abri-lo aos ventos de uma nova organização social e política, cultural e estética contra o conservadorismo. Este impulso intelectual ficou conhecido por Geração de 70. A reflexão da Geração de 70 foi importante para a abertura de Portugal a estas novas gramáticas e linguagens estéticas que se faziam anunciar na europa.

 

               Símbolo do modernismo no país... uso do ferro , Ponte D. Maria Pia, Porto


 O Simbolismo Estético da Arte Nova

     Os artistas vão aproveitar uma plasticidade nova do ferro e do vidro, do betão e do mosaico/cerâmica e a nível da linguagem decorativa dar azo à criatividade e total liberdade.

         Vidro Tiffany, vidro iriscente... artes decorativas de Art Nouveau, França

    O simbolismo vegetalista, os temas orientalizantes, a diminuição de arestas, superfícies ondulantes, curvas, ondulados, animalismo, nomeadamente animais singelos, como a mosca, a borboleta, a libelinha…

    No cartaz publicitário pensemos em Toulouse-Lautrec que imortalizou os famosos cabarets de vida boémia parisiense, que todos temos no imaginário e, alguns, até alguma imagem na parede da sala de estar ou no escritório…

                                 Cartaz publicitário de Toulouse-Lautrec... Moulin Rouge, França

Arte Nova: Modernidade e Tradição

    Novos recursos, novas técnicas, novos materiais e inovação formal levam a uma nova estética. Arte dinâmica, decorativista, simbolista. Complexa. De definição complicada, abarcou diferentes artistas, diferentes influências, diferentes escolas regionais e nacionais e diferentes designações. A arte moderna foi uma fórmula que exprime modernidade e tradição e implantou-se de forma única no espaço urbano. Abriu também o caminho à Art Déco.

                                  Fachada do animatógrafo do Rossio... majestosa. Arte Nova

Vultos da Arte Nova e Lugares Icónicos

    Pensemos em António Gaudi e, em Barcelona, com a Casa Milá e a Catedral da Sagrada Família. Em Portugal, pensemos na Gare de São Bento e no Mercado Ferreira Borges, no Porto. Por sua vez, em Lisboa, no animatógrafo do rossio, elevador de Santa Justa, salão da Sociedade de Geografia, Coliseu dos Recreios. Por fim, em Sintra, com o Palácio da Pena. E na cerâmica, pensemos em Rafael Bordalo Pinheiro… É verdade que a sua chegada a Portugal foi tardia, principalmente influenciada pela Arte Nouveau vinda de França… mas chegou!

                                         Casa Milá, Gaudi, Barcelona... exemplo da Arte Nova

    Serralharia artística em varandas e portões, escadarias e gradeamentos. Mobiliário com motivos florais. Fachadas decoradas com azulejaria, com florões. Cantarias. Arabescos. Esta parafernália foi aplicada nas casas da burguesia e dos imitadores do gosto burguês. Ficaram alguns palácios, palacetes e casinhas de “emigrantes” regressados do Brasil, ricos e com mau gosto… Outras obras, pelo contrário, são afirmações de criatividade e bom gosto.

                               Palácio da Pena, Sintra... um verdadeiro exemplar da arte nova


Cheirinho de Arte Nova no Barreiro…

                           Azulejo decorativo de fachada de prédio no Barreiro... Rua Miguel Pais

    No Barreiro temos alguns tipos, elementos decorativos, azulejaria, ferro, vidro decorativo, e estruturas e formas, que correspondem à linguagem e gramática estética da Arte Nova. Principalmente, observáveis nas fachadas…

                    Palacete ao gosto burguês da época... fachada revestida totalmente a cerâmica...


    Viaje pela Travessa do Alto de José Ferreira, percorra a Rua Miguel Pais com atenção e observe atentamente a estação Sul e Sueste (estação antiga)…

Pormenor da serralharia artística... uso do ferro. Friso decorativo com cores vivas.. Rua Miguel Pais

    Ficam as sugestões e as imagens como propostas de cunho enciclopédico para descobrir a sua cidade, treinar o olhar e partir à procura de outros elementos e estruturas no nosso Barreiro…  de Arte Nova!

                                           Florão/Decorativo no topo da casa ...

    Há mais… só temos de procurar!

Torreão com arestas suavizadas... ao gosto da arte nova europeia

Símbolo vegetalista decorativo na Estação Sul e Sueste...


                                                  Uso do vidro decorativo e colorido


                Casa da Travessa do Alto de José Fereira... fachada ao gosto Arte Nova


Sugestão para saber mais:

 B. CHAMPIGNEULLE (1984). A Arte Nova, Verbo, Lisboa

https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-20/art-noveau/

Visite o Museu de Arte Nova em Aveiro:

https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/museu-de-arte-nova

 

 


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