Lendas: O pescador ZIMBRA , o mito da fundação de SESIMBRA
Lendas: O pescador ZIMBRA , o mito da fundação de SESIMBRA
Lendas
A idade média foi muito fértil na criação de lendas populares como tentativas explicativas do caos, do inexplicável. As lendas são tentativas de ordenar e dar sentido à existência em comunidade. São um elemento agregador e ordenador da vida. A oralidade encarregou-se de passá-las de geração em geração, com maior ou menor obliteração temporal. Há sempre um fundo que se mantém inalterável que lhes confere muito interesse. Não sabemos o autor, ou o facto concreto, que esteve na sua origem.
O romantismo do século XIX, um pouco por todo lado, na tentativa de afirmar as nacionalidades recuperou muitas das lendas existentes, em Portugal houve gente de vulto na valorização deste género de viagem ao nosso passado comum.
Só para referir alguns nomes: Almeida Garret, Alexandre Herculano, Teófilo Braga…
A lenda de hoje é sobre ZIMBRA:
A explicação da fundação de SESIMBRA (1)
“ Diz-se que, ainda antes da fundação da nacionalidade, esta região já
era terra de pescadores, se bem Que o Castelo ainda não existisse e a
população habitasse o alto do monte onde mais tarde se construiu a fortaleza
para organizar o território.
Era senhor daquelas
terras um homem tirânico que a todos exigia vassalagem vassalagem. Era ele que
concedia as autorizações de pesca, autorizava casar, definia o calendário da
pesca, tudo era por ele definido. Cobrava impostos e tributos sobre o pescado,
sobre os barcos e sobre tudo o que
entendesse. Um desses tributos, velho hábito ancestral, obrigava todas as
donzelas que iam casar a serem possuídas pelo tirano na véspera do matrimónio.
Apesar do
descontentamento geral ninguém ousava rebelar-se contra o tirânico senhor.
Certo dia, porém, Zimbra e Maria decidiram casar-se. Zimbra era pescador e era um jovem corajoso e ousado. Maria era
filha da mesma terra, vítima silenciosa do mesmo costume opressor.
Marcado o casamento,
desceu-lhes ao pensamento a obrigação devida ao senhor. Maria estava disposta a sacrificar e entregar a virgindade como
tributo ao senhor tirânico.
Zimbra, jovem corajoso, não estava disposto
a aceitar essa exigência e dispôs-se a desafiar o costume estabelecido.
Zimbra não deu ouvidos aos medos de quantos
o avisaram e pôs fim à discussão apresentando o seu plano: desceram até à borda
do mar e aí se estabeleceram num território livre de toda a tirania, povoado
autónomo em crescimento.
Isto pareceu tão
simples e razoável que a todos os
pescadores rebeldes se dissiparam os receios e se entregaram à CORAGEM DE ZIMBRA: Um Líder! E cada vez
que se falava no propósito de Zimbra diziam:
_ Se ZIMBRA
quiser…
E Zimbra quis porque era destemido.
No dia do seu casamento
recebeu Maria e partiu monte abaixo até à praia. Com eles desceu um grupo de
casais e seguidores.
Chegados ao sopé, delimitaram,
segundo velhos rituais, a nova aldeia. Ergueram pilares, construíram novas
casas, choupanas de madeira, e fizeram um largo onde se encontravam para
discutir as medidas a tomar para fazer prosperar a Nova Aldeia.
Quando o tirano soube
disto, teve um fúria imparável.
Mas Zimbra e os
habitantes do novo povoado, experimentado a liberdade, organizaram-se e a pé
firme, esperavam a hoste do senhor tirânico. Estavam dispostos a tudo, a lutar
e a vender cara a vida, por Zimbra que
lhes dera coragem e liberdade: Se ZIMBRA
quiser…
O ZIMBRA quis e lutaram, possuídos de
uma vontade e calma impressionante contra o inimigo. Venceram. Lutaram e
venceram. Tendo posto fim ao tirano. Ficaram livres do jugo secular e
injustificável dos tiranos da terra.
Agora era-lhes possível
fazer do seu povoado um terra de verdadeiros pescadores e homens livres.
Se ZIMBRA quiser…
E ZIMBRA, pela terceira e última vez, quis!
Quando da reconquista, D. Afonso
Henriques conquistou a terra e chamou-lhe SESIMBRA… porque Zimbra quis!”
(adaptado)
Esta lenda fundacional
de Sesimbra, outras
haverá na memória popular à espera de recolha, mostra a resistência, o desejo
de liberdade, a capacidade de lutar e vencer do povo de Sesimbra. Sesimbra alapou-se contra o mar encosta
abaixo, soube resistir e crescer e tornar-se num local ,aprazível de gentes,
cores, cheiros, saberes e sabores, que
nos envolve e abraça de forma mágica.
Inesquecível e para sempre este amor por Sesimbra, terra de
pescadores, de gente fraterna.
(1) Lenda de Zimbra, Recolha da Extensão Educativa do Seixal, 1992 (Recolha: Profª Fernanda Gil Rocha), p. 153. Lenda da fundação de SESIMBRA
(2) Fotos da Galeria de Imagens da CM Sesimbra
Ver história de Sesimbra:
https://www.sesimbra.pt/pages/427
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