O Cancioneiro Tradicional da Madeira e a Estética das Flores e Plantas

O  Cancioneiro Tradicional  da Madeira e a Estética das Flores e Plantas

 

 A relação entre a cultura popular e o mundo vegetal manifesta-se em belas cantigas e poesias populares. Esta do cancioneiro da Madeira é um exemplo. Numa  única cantiga, seis referências ao reino vegetal, o trevo, a rosa, a verdura, a perpétua, o alecrim e o cravo.

                                                      Identidade. Festa da Flor da Madeira

A madeira é terra de flores. Fez das flores e da sua produção um recurso turístico de alto valor. As flores marcam a identidade territorial.  É todo um simbolismo  e estética em torno das flores que também o Cancioneiro reflete essa dimensão do mundo natural.  A Madeira é festa e poesia com flores.

O rapaz com recurso a comparações, metáforas e alegorias  procura transmitir à rapariga a convicção do seu amor. As flores e plantas, pela sua cor, odor, beleza e naturalidade servem para convencer a rapariga do muito que lhe quer e ama.

                                                                   Verdes campos

Já os antigos cantares de gesta dos jograis e trovadores recorriam à natureza, às flores e plantas para comporem as baladas romanceadas às suas amadas. D. Dinis, nosso culto Rei e poeta com as “Flores de verde pinho” coloca a mulher a perguntar pelo seu amado às flores de forma ansiosa, desejosa de saber notícias do seu namorado:

“-Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
     Ai Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
     Ai Deus, e u é […]

Com  Camões,  o nosso poeta maior, com o poema “Verdes são os Campos” que Zeca Afonso musicou e popularizou,  recorre também a elementos do mundo vegetal, no caso o limão, com cor esverdeada… para a sua poemática:

“Verdes são os campos

De cor de limão

Assim são os olhos

Do meu coração. […]” 

Na canção “ Sete dias da Semana” do cancioneiro da madeira fica claro a importância de certas plantas e flores  destinadas a explicitar o amor. Esta estética do belo floral e vegetal afirma a natureza poética destas canções. Esta significação garante ao nível do imaginário que a canção  se destina a revelar ao outro uma intenção nobre, lírica, maravilhosa testemunhada pelo recurso a flores e plantas que tem uma representação clara e , habitualmente positiva, a nível da cultura popular.

 

O trevo rasteiro como metáfora da certeza do amor que vai no coração do rapaz.


A rosa associada à primavera, ao desconcerto, à explosão das cores e cheiros e que traz dúvidas ao amante.


A verdura usada para referir a formusura da amada.

A perpétua  para afirmar que sabe que às vezes  a sua amada também não lhe diz tudo.


O alecrim para lhe fazer uma jura de amor único.


O cravo elemento de grande carga simbólica ao longo da história. Elemento marcante da nossa história recente. O encarnado da paixão, quando lhe pede um beijinho.



 

Sete dias da semana

Sete dias da semana
Vou mandá-los dividir
Com cantigas de amor,
Menina, se queres ouvir.

A segunda é pelo trevo
Que nasce pelo chão
Também o meu amor nasce
Da raiz do coração.

A terça-feira é pela rosa
Que nasce na Primavera
Desejava eu saber
A tua intenção qual era.

Quarta-feira é pela água
Que rega a bela verdura
Também rega esses teus olhos
Que têm tanta formosura.

Quinta-feira é pela perpétua
Que dá flor excelente
Falo bem ao meu amor
Às vezes também me mente.

Sexta é pelo alecrim
Carregadinho de flor
Dentro do meu coração
Não existe outro amor.

Sábado é pelo cravo
Que dá flor encarnada
Eu só queria um beijinho
E não queria mais nada.

 Cancioneiro Tradicional da Madeira,  (com adaptações)

https://www.meloteca.com/cancoes-de-flores/ [consultado em 13 de Junho de 2020]

Relacionado:

 http://www.visitmadeira.pt/pt-pt/a-madeira/10-razoes-para-visitar-a-madeira/eventos-inesqueciveis

Fotos:  Wikipédia e Culturmix


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