Ynari e as Cinco Tranças Mágicas da Paz. Literatura Infantil e Juvenil
|
|
|
Num tempo de discursos de ódio, uma sugestão de leitura acompanhada de uma recensão à obra. Para miúdos, graúdos, professores e animadores |
|
|
Ynari e as
Cinco Tranças Mágicas da Paz
- O Outro e
o Valor das Palavras -
Por
Domingos
Boieiro
Resumo[1]
A partir de Ynari,
A Menina das Cinco Tranças[2],
procuramos reflectir sobre o valor da literatura para a socialização e
convivialidade reconhecendo-lhe um valor formativo e transformativo. Este livro,
que tenho dificuldades em definir, é uma parábola, é uma alegoria com grande
valor simbólico sobre a necessidade de entendimento no mundo, apesar das
diferenças e diversidades. Chega-nos de uma geografia africana, Angola, terra
marcada pela guerra. A guerra tem um valor
universal de desconcerto e desequilíbrio universal. Por isso, esta obra
é uma parábola que não tem fronteiras adquirindo um estatuto de universalidade.
O objectivo central da obra é destruir
a palavra guerra através do diálogo, do poder da palavra e do poder da magia
que reside no coração, é inventar palavras/valores que produzam a paz e a
amizade entre os homens. É uma viagem pelos sentimentos conduzida por uma
criança com poderes mágicos que se vão revelando no caminho com o outro, um
homem mágico muito pequenino com um grande coração e, com os outros, cinco
aldeias, que estão em guerra sem sentido: Os que querem ouvir, os que querem
falar, os que querem ver, os que querem cheirar e os que querem saborear.
Por cada aldeia, Ynari através da
oferenda de uma trança e da magia que lhe vêm do coração permuta-a pelas necessidades
de cada aldeia com base no compromisso de não mais fazerem a guerra à outra.
Esta obra é para todas as idades
do ponto de vista da temática do encontro com o outro, do valor do mais velho,
do papel dos avós, do valor dos sentimentos, da beleza da partilha, da alegria
da amizade e do supremo bem que é a paz e a compreensão entre os povos.
Palavras –
Chave: Encontro; Viagem; Velhice; Sabedoria, Coração; Magia; Palavra; Permuta;
Diálogo; Valores e Diversidade.
I – Do Texto
e Conteúdo
1.
O Homem Pequenino de Sorriso Muito Grande: O Encontro
O autor começa com Era uma vez, recorrendo à técnica
subjacente ao conto[3]
para nos sugestionar para um mundo narrativo maravilhoso e fantástico: «Do
capim alto saiu um homem muito pequenino com um sorriso muito grande» (p.9). O
homem era pequenino, mais pequenino que uma menina. Este elemento
transporta-nos logo na fase inicial para um mundo ficcional onde o maravilhoso
e o fantástico estão presentes. O homem não tem nome, anda devagarinho e sorri.
Cria-se entre ambos de imediato uma empatia enorme, sem medo sentam-se na relva
a conversar. Nasce uma amizade imediata.
As diferenças de tamanho e as
características de cada um não os impediram de dar as mãos e caminharem lado a
lado, falarem, olharem as estrelas e ficarem com vontade de voltar a
encontrar-se.
Neste encontro percebemos que o
tamanho como diferença não conta. Começa a dança misteriosa das palavras:
a) «Pequeno» e «Coração»
“- Sim, somos todos mais pequenos que vocês,
quer dizer, depende daquilo que entendemos por «pequeno». Não achas?
- Nunca tinha pensado nisso. Sempre pensei
que uma coisa menor fosse uma coisa pequena...
- Pode não ser assim... conheces a palavra
«coração»?
- Conheço! – sorriu Ynari. – E não é só uma
palavra, é isto que bate dentro de nós – e mostrou no seu peito onde o coração
batia.
- Claro, e... O coração é pequeno para ti?
- É... e não é! Cabe tanta coisa lá dentro, o
amor, os nossos amigos, a nossa família...
- Vês! – disse o homem mais pequeno que ela.
– Às vezes uma coisa pequenina pode ser tão grande...” (pp. 10-11).
b) «O medo»
“- Não tens medo dos bichos? – ela perguntou
- Não. Os bichos não fazem mal
nenhum... E mesmo a palavra «medo» pode ser vivida de várias maneiras.
- Mas quando estás perto de uma
palanca negra gigante, tens medo, ou não?
- Sabes, Ynari, nunca estive
muito perto de uma palanca negra gigante, embora já a tenha visto muitas vezes.
E tu?
- Eu só a vejo ao longe.
- A palanca negra gigante correu
até perto de ti, fez-te mal?
- Não, nunca.
- Vês... Não precisas de usar a
palavra «medo».
- Também acho...- disse Ynari,
dando a mão ao homem simplesmente pequeno” (p.12).
Depois do encontro e do
nascimento de uma bela amizade, com os olhos no céu as estrelas brilhavam no
escuro e Ynari teve de regressar a casa para os cuidados e mimos da avó
O texto permite-nos a inferência
da compreensão do papel do ambiente envolvente: o rio, o capim o céu e as
estrelas. Tudo está lá para preparar a magia da viagem que ambos vão empreender
para acabar com a guerra. Depois deste primeiro encontro veio a noite e o
sonho.
Com Ynari já de regresso à aldeia
o autor introduz (pp. 14-15), também a temática ambiental quando explica que os caçadores só caçam para comer e atribui à avó, muito velhinha o papel
de cuidadora e protectora[4].
2.
A Viagem: A Palavra e a Magia para Acabar com a
Guerra
Depois de uma noite de sono e
sonho, Ynari regressou como combinado ao encontro com o homem pequeno e
assistiu à guerra entre dois grupos de homens que se matavam uns aos outros.
Após a batalha os homens
puseram-se a dormir, e o homem pequeno aproximou-se deles e com a sua magia
transformou as armas em armas de barro (p.17-18). O autor introduz aqui outro
ingrediente, o da magia que tudo consegue. Mão na mão partiram para a aldeia do
amigo onde as pessoas viviam nas árvores. Era uma aldeia que não tinha “Soba”
(chefe).
O homem pequeno apresentou a
Ynari um velho muito velho e especial: Era o inventor de palavras. Depois
apresentou-lhe uma velha, muito velha e especial: Era a destruidora de
palavras.
A partir daqui há palavras que se
inventam e palavras que se destroem. Ynari foi presenteada com uma pequena
festa iniciática no mundo da magia.
Cada um tem de descobrir a sua
magia! O velho e a velha apenas lhe deram uma palavra: “permuta”. Ynari
pergunta pela fórmula e é-lhe respondido que a fórmula está dentro do seu
coração. Esta situação, do ponto de vista da leitura do texto, provoca no
leitor um efeito de mudança, porque passa a ter uma acção mais dinâmica de
encontro com o objectivo central, que é acabar com a guerra. A palavra
“permuta, como troca justa vai facilitar a resolução das necessidades das cinco
aldeias. O leitor é tocado pelo espírito de missão, abre-se ao mistério da
aventura para contribuir para a paz nas aldeias. O texto ganha definitivamente
o leitor porque o espírito deste foi tocado pela magia daquele. Qualquer
criança ou adulto ao encontrar-se com o livro desta forma experimenta uma
alegria enorme de participar na harmonização das relações entre os homens. A
partir daqui a leitura e reflexão começam a fazer o leitor participar na
história.
Também nesta fase está conferido
o papel fundamental que o mais velho tem na mediação e resolução dos problemas.
A velhice, aqui no texto e na geografia da acção está associada a sabedoria.
Mensagem muito importante para a criança de hoje, no mundo ocidental, que é
constantemente confrontada com a ideia de juventude eterna como modelo social.
Armada com as suas cinco tranças,
a capacidade de diálogo, a sabedoria das ervas, consciente da sua utilidade e a
fórmula no coração, Ynari vai começar a permutar e descobrir a sua magia:
Acabar com a guerra:
- Na aldeia que não ouviam, na
que não falavam, não que não viam, não que cheiravam e na que não saboreavam a
todos suprimiu as suas necessidades com um compromisso: Não lutarem mais e
acabar com a palavra guerra. “Vitória, vitória e assim a acabou a história”.
3.
Síntese
“ A camaradagem que possa existir
entre vós será sempre frutuosa. Poderás ajudá-los na aprendizagem da língua e
dos costumes da tua terra; eles poderão falar-te do país deles e da maneira
como lá se vive. Mas, volto a repetir, não é por o teu país ser mais rico e
mais industrializado que a sua civilização é superior. O valor dos homens não
se mede pela produção das suas fábricas ou pelo número de automóveis.”
Denis Langlois
Este livro tem todas as condições
para ajudar as crianças a aceitar-se a si e ao outro tal como é: Gordo, magro,
amarelo, branco, negro, alto, pequeno, vermelho...Este tipo de literatura é um
excelente meio de introdução de uma educação para os valores da tolerância,
solidariedade e da paz e da diversidade cultural. Constitui-se como meio, texto
e ilustrações, para que a criança leitora tome consciência de um mundo plural
com culturas diferentes para conviver e para compreender o valor da amizade na
diversidade.
É também um livro de “viagens” ou
de viagem pela sensibilidade e pela aprendizagem que provoca na criança a
vontade de pensar sobre as palavras, olhar para o interior dessas palavras e
maravilhar-se com as pequenas coisas que vão acontecendo ao homem pequeno e a
Ynari no seu mundo. Alarga-lhe a visão do mundo para lá da linha do horizonte.
II –
Exploração e Intervenção Pedagógica
- A
Literatura e a Diversidade
“Chegou o tempo de reconhecer
a interdependência cultural. Propomos que o princípio do respeito pela
diversidade de culturas seja decisivo para a nossa nação, e afirmamos que o
direito à diversidade cultural existe. Acreditamos que a sala de aula é um dos
lugares onde esta interdependência cultural tem de ser reflectida.”
(Comissão do Desenvolvimento e Revisão dos estudos Sociais do Estado de
Nova Iorque, 1991)
É nos verdes anos que tudo se
joga na aceitação e compreensão da diferença porque ninguém nasce a odiar, e
esta obra estará em faixa larga adequada ao fim do 1º ciclo e ao 2º ciclo (9
/12 anos). Esta obra insere-se num tipo de literatura temática que pode
desempenhar um papel extraordinário para a abordagem, estudo e reflexão sobre
as características culturais e os estereótipos culturais. Com acréscimo de
razão, em turmas com composição étnica diversificada. Ynari, é uma menina que
destinada a ofertar as tranças com que nasceu para a obtenção da paz serve de
modelo para combater o negativismo e a rejeição em relação ao outro: causas de
todas as guerras e incompreensões.
Ynari, simbolicamente, ao ir
perdendo as tranças uma a uma em prol da paz tem algo de sacrificial e
ensina-nos que para que a paz impere é preciso sacrificar tempo de diálogo e
dedicação activa para alcançar a «permuta» com base no compromisso. Todos os
beligerantes deveriam ser obrigados a ler Ynari.
“[...] Mas não, a palavra «guerra» é parecida
com a palavra «desaparecer», que é parecida com as palavras «deixar de viver».
A partir de amanhã não procurem mais a palavra «guerra» porque ela vai deixar
de existir.”
Ynari
- Ynari
e o Desenvolvimento Psicológico da Criança
“É necessário conquistar e
possuir o livro, lutando com ele, lendo-o. E a criança pode ser iniciada nesta
batalha se formos capazes de lhe estimular o desejo e o gosto pelos livros,
pela literatura escrita para ela, pela imagem que expressa o primeiro elo nesta
apaixonante aventura de ler a fundo, de
ler e entender, de reflectir e gozar e viver as mil situações e peripécias em
que os livros nos iniciam, em que a literatura nos faz penetrar.”
Mercedes Gómez del
Manzano
O encontro com o homem pequeno
e as viagens pelas aldeias em guerra são trilhos de aprendizagem que permitem a
maturação e o desenvolvimento psicológico de transição da criança. Ynari
aprendeu a conhecer o significado da palavra «medo», a expiá-lo e a
exorcizá-lo. Aprendeu que se podem inventar palavras para sempre como «despedida»,
que não tem que ser definitiva podendo as pessoas encontrar-se sempre física ou
mentalmente. Na palavra «despedida» encontrou a saudade e o encontro. É um texto cheio de simbolismo.
É uma narrativa existencial de
um mundo onde se sofre, onde há dor e conflitualidade inerente à vida. Ynari é
um hino à sensibilidade e ao valor e magia da palavra. Na palavra «explosão»
encontrou a sua adequação à beleza das explosões das estrelas que riscam e
iluminam o céu no escuro e a explosão da alegria resultante da felicidade. Na
viagem Ynari cresceu e amadureceu.
- Ynari e a Consciência Ecológica
“Ela gostava muito de passear perto da sua
aldeia, ver o campo, ouvir os passarinhos, e sentar-se junto à margem do rio.
[...]Amanhã estarei ali, no mesmo sítio onde
hoje nos encontrámos, junto ao rio, junto ao nascer do sol.”
Ynari
Ynari nos encontros com o homem pequeno vai
aprendendo a olhar a natureza e valorizá-la, e a vida vai ganhando valor “na
palanca negra gigante” ou no olongo morto apenas para alimentar a aldeia.
No contacto com a natureza,
sentada no capim a ver o descambar do sol, a olhar as estrelas e o céu vai percebendo o mistério da vida e a nossa
posição no universo. No seu rio vê os peixes, as águas calmas e mansas como
elementos naturais fundamentais á existência.
E é também enquadrada por este
espaço natural que vai descobrindo
também a capacidade de sonhar, sendo-lhe revelada pelo “sonho” o mistério das
suas tranças e o sentido da sua existência com uma missão: alcançar a paz.
Ynari é uma narrativa comprometida, com uma causa maior e universal que é a
convivência entre todos e uma justa e equilibrada distribuição dos bens, neste caso,
do ouvir, ver, falar, cheirar e saborear.
Estamos perante um texto com valores éticos e ecológicos que procura um sentido
para a vida das comunidades. Por tudo isto, Ynari é também uma ecologista
comprometida.
- Ynari é Identidade
Social e Cultural
“- Quando é que nos voltamos a ver? –
perguntou Ynari.
- Sempre que quisermos.
- Mas tu vives tão longe...
- Há muitas maneiras de se ir muito
longe – disse o homem pequeno.
- Diz-me uma.
- Tu sabes...
- Achas que posso apanhar boleia do
humbi-humbi?”
Ynari
Nota: O Humbi-Humbi é uma ave de Angola muito
apreciada e bonita; é um símbolo de identidade.
Existe nesta narrativa uma vertente social, relacional do Eu com o
Outro, necessária para o equilíbrio da comunidade a que pertence. Isso surge
quando Ynari diz que é preciso “olhar”, ou seja, é urgente aprender o valor do
olhar franco e aberto. Há sobretudo na parte final da obra destacadamente uma
profunda reflexão sobre o homem, sobre África e a sua condição no mundo. É a
função moral do conto!
Em todo o texto, Ondjaki, associa Ynari à
identidade cultural africana, multiétnica em termos representativos e em termos
de vontades. Daí os velhos criadores e destruidores de palavras como condição
para a criação de uma linguagem que leve a uma realidade social convergente.
Ondjaki quer chamar a atenção para a problemática da identidade e para o peso
que a linguagem tem na dimensão do sentido de pertença identitária e de coesão nacional.
Estamos a falar de Angola com vários dialectos e etnias.
«Esta aldeia não tem soba». De facto,
representação, vontade e linguagem são as marcas determinantes da identidade.
Para Ondjaki, em Ynari o que se percebe é um sentido de demanda para a vida com
emoção e afectividade. As palavras que são precisas ser inventadas para
reconhecer o outro: «permuta»; «amizade»; «olhar»...Ondjaki é sociólogo! A
identidade social e cultural funda-se na procura de pontos comuns e na
aceitação da diversidade. Ynari, representa esse processo contínuo de procura
de identidade na diversidade, pelo sonho, pela fantasia, pela magia do coração.
É um texto universal.
- Ynari e o Currículo
As reflexões feitas sobre Ynari trazem a possibilidade de poder focar, além de outras temáticas (valores, amizade, diferença), o tema da interculturalidade.
Nas últimas décadas, a sociedade portuguesa tem-se caracterizado por uma crescente diversidade étnica e cultural. Este é um fenómeno inerente ao processo acelerado de globalização das sociedades e dos movimentos migratórios.
Em Portugal esta diversidade é particularmente notória devido às relações seculares que o nosso país mantém com povos de outros continentes.
A imigração tem vindo a fazer da nossa sociedade um local de encontro de diversas culturas. Este fenómeno coloca novos desafios aos professores em termos de mudança das suas práticas de modo a torná-las inclusivas da diversidade dos seus alunos, sendo a escola um dos principais locais onde os fenómenos sociais e as diversas maneiras e concepções de vida social mais se fazem notar. O currículo da escola deve assim trabalhar em prol da formação de identidades abertas a esta pluralidade cultural, «desafiadoras» de preconceitos, numa perspectiva de educação para a cidadania, para a paz, para a ética nas relações interpessoais, para a crítica às desigualdades sociais e culturais.
Interculturalismo é sinónimo de reconhecimento do pluralismo cultural, quer dizer simultaneamente da afirmação de cada cultura, considerada na sua identidade própria e na sua abertura às outras, de forma a estabelecer com elas relações de complementaridade.
A afirmação da identidade assenta na convicção de que todas as culturas são relativas a um determinado meio ao qual pretendem dar uma resposta eficaz, pelo que nenhuma delas é universal ou intemporal.
A complementaridade significa que qualquer cultura sai enriquecida do contacto com os outros transformando-se e desenvolvendo-se. O multicultural e pluricultural são de ordem descritiva, quando dizemos que uma sociedade é pluri ou multicultural queremos dizer que essa sociedade agrupa indivíduos de culturas diferentes.
Esta pedagogia requer a dinamização das relações da escola com as famílias no sentido do diálogo, da participação e da co-responsabilização.
A educação intercultural é assim um recurso e uma forma de enriquecimento para todos.
Cabe-nos a nós adultos e à escola transformar a mentalidade das nossas crianças e, progressivamente das respectivas famílias para que possamos viver em harmonia não só no espaço-escola, como também no espaço-sociedade ao qual todos pertencemos. Trabalhar Ynari na escola é um pequeno contributo.
Como tem vindo a ser referido, e Ynari
permite-o, a interculturalidade deve constituir uma perspectiva transversal a
todo o currículo podendo atravessar todas as áreas, seja nas disciplinas
sociais e humanas, nas línguas, na matemática, nas ciências ou nas áreas de
expressão.
6.
Sugestões e reflexões para exploração de Ynari
“ A literatura infantil deve satisfazer a fantasia da criança; criar-lhe um mundo rico em possibilidades recreativas e gratificantes; dar entrada, sem complexos, aos interesses morais, sociais e técnicos; facilitar um deleite estético adequado à idade dos leitores.”
Mercedes Gómez Del Manzano
As actividades para exploração do texto icónico e do texto verbal devem começar sempre pela capa do livro, contra-capa, prefácio, capítulo, badanas...A capa transporta sempre muita informação (título, autor, ilustrador...).
Para a Exploração de Ynari:
- Com base na capa do livro (título, ilustração) solicitar aos alunos a escrita de um texto.
- Esse texto pode ser uma proposta de antecipação da história. Que história contará este livro?
- Com base na contra-capa do livro, solicitar às crianças que escrevam um texto, tendo como ponto de partida a ilustração e pode abordar os possíveis temas do livro.
- Explorar só o texto icónico, com o seguinte percurso:
1- Leitura do código plástico.
2- Da leitura do código plástico à expressão escrita.
3- Da expressão escrita às múltiplas leituras do código plástico.
4- Leitura parcial ou total do código escrito, o professor propõe número de páginas a ler.
5- Colocar questões de expectativa.
6- Reconto do código escrito.
7- Partilha de leituras pessoais - desenrolar da acção/ textos escritos onde os alunos, deverão fazer uma leitura reflexiva da obra.
8- Perguntas de expectativa.
9- Partir para o texto biográfico.
10- Construir uma narrativa a partir de imagens.
11- Produção de texto descritivo (descrever uma imagem)
12- Reconto da história num outro espaço, ou introduzindo outras personagens.
13- Introduzir outras possibilidades...
14- Escrever sobre temas abordados na obra; o valor da amizade; a questão da diferença; a questão da guerra...
Ou,
LER! SIMPLESMENTE LER!
Os alunos deverão falar dos textos com as suas próprias palavras... É talvez a mais importante sugestão para o texto de Ondjaki.
7. Síntese: Funções da Literatura Infantil
Sistematizemos as funções da LIJ:
- Função Lúdica, deve dar prazer às crianças, (a criança vai estabelecer uma relação afectiva com o texto);
- Função estética;
- Função de modelização do mundo;
- Função formativa, transformativa e educativa.
Através de textos literários como o de Ynari, podemos levar as nossas crianças a conhecer o mundo e os temas mais actuais da nossa sociedade.
Por Educação literária entendemos a adopção de uma metodologia que dote a criança com um conjunto de saberes culturais, literários e sociais, que lhe permitam descobrir modelos, palavras convencionais, símbolos, mitos, acontecimentos, e ter uma reacção individual com uma obra literária.
Quanto mais lermos intertextos como os de Ynari mais possibilidades temos para desenvolver esta competência. Uma criança que não tenha a sua competência literária desenvolvida é difícil depois ler com autonomia e independência outras literaturas. O professor deve desempenhar uma função de facilitador e «diversificador» de estratégias na promoção de uma educação literária.
O texto literário não se ensina! Através do diálogo as crianças são capazes de dar razões, ou seja, racionalizar e penetrar no texto. O texto literário é ficcional, aposta na literalidade, no ”estranhamento” e no discurso de natureza não pragmático.
Serão as crianças capazes de uma leitura distanciada, atenta ao funcionamento de textos como o de Ynari?
Conseguirão aceder à dimensão simbólica?
Obviamente que sim!
Domingos Boieiro
Notas Finais
[1] Este trabalho, da unidade curricular de Literatura Infantil e Juvenil, tal como indicado, inscreve-se na temática da relação entre os outros e a diversidade cultural e na necessidade de diálogo cultural. A literatura pode ser um contributo inestimável para a criança aprender a ler o mundo e adquirir uma educação para os valores de cariz universalizante. Com a escolha desta obra, aprende-se que é possível, através do diálogo, o entendimento e a promoção do valor da paz como condição para a felicidade e prosperidade dos povos.
[2] Ficha Técnica da Obra Seleccionada: Ondjkaki (2004). Ynari, A Menina das Cinco Tranças. Lisboa: Caminho. Contou com o valioso contributo de ilustração da Danuta Wojciechowska. Embora as ilustrações sejam muito bonitas, valorizem a lisibilidade do texto e estejam articuladas com a ambiência envolvente e com os personagens principais, este é daqueles textos que não precisaria do discurso significante da ilustradora para ser entendido no processo narrativo e de leitura compreensiva.
[3] É uma obra que vive muito pela sugestão, pelos personagens e pela geografia da oralidade. É sem dúvida um conto, uma narrativa do mundo, intemporal e onde podemos identificar, nesta sinonímia, o apelo do autor, desde a fase inicial, ao nosso imaginário para a narrativa existencial que se vai desenrolar.
Em Glória Bastos (1999). Literatura infantil e Juvenil. Lisboa:
Universidade Aberta, pp. 68-74 aprendemos os ingredientes necessários a uma
narrativa inscrita no âmbito do conto. Depois de citar Georges Jean, Glória
Bastos dá-nos uma visão sobre o poder do conto para o desenvolvimento da imaginação, «[...] considerada como uma
faculdade essencial do homem, particularmente fecunda durante a infância, e
determinante para os processos de desenvolvimento da pessoa, tanto culturais
como afectivos, sociais e individuais» (1999: 68).
[4] Logo nas primeiras páginas, o leitor consegue interpretar o significado da abordagem da história e identificar-se com o texto. O leitor fica pronto para seguir a viagem até ao fim. Consegue-se quase de imediato inferir o contexto e compreender a ideia principal. Estas primeiras páginas deixam-nos atentos e presos para sermos activos e reflexivos sobre a narrativa. Ansiamos passar para a página seguinte para saber como vai acontecer.
Bibliografia
Referencial
ALONSO,
L. (2002). INTEGRAÇÃO: CURRÍCULO - AVALIAÇÃO. Lisboa: DEB, pp.16-23.
BASTOS,
Glória (1999). LITERATURA INFANTIL E JUVENIL. Lisboa: Universidade Aberta.
BENAVENTE,
A. [et al.] (1996). A LITERACIA EM PORTUGAL. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
CARNEIRO,
R.(2001). FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO E DA APRENDIZAGEM. Vila Nova de Gaia:
Fundação Manuel Leão.
DUARTE,
I. (2008). O CONHECIMENTO DA LÍNGUA: DESENVOLVER A CONSCIENCIA LINGUÍSTICA. Lisboa:
ME.
GOMES,
J. António (1996). DA NASCENTE À VOZ. Lisboa: Caminho.
GOMES,
J. António (1991). LITERATUTA PARA CRIANÇAS E JOVENS. Lisboa: Caminho.
JOLIBERT,
J. (1991). FORMAR CRIANÇAS LEITORAS. Lisboa: Edições Asa.
LANGLOIS,
Denis (1998). A INJUSTIÇA CONTADA ÀS CRIANÇAS. Lisboa: Terramar.
MANZANO,
M. Gómez Del (1988). A CRIANÇA E A LEITURA. Porto: Porto Editora.
MIALARET,
G. (1974). FORMAR CRIANÇAS LEITORAS. Lisboa: Editorial Estampa.
MONIZ,
Luísa L. (2008). NÃO SEI SE SOU DIFERENTE. Lisboa: Livros Horizonte.
PERES,
A. N. (2000). EDUCAÇÂO INTERCULTURAL. UTOPIA OU REALIDADE?. Porto: Profedições.
PESSANHA,
A. (2001). ACTIVIDADE LÚDICA ASSOCIADA À LITERACIA. Lisboa: Instituto de Inovação
Educacional
SALGADO,
L. (2000). LITERACIA E APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA. Lisboa: Ministério
da Educação.
Comentários
Enviar um comentário