Ynari e as Cinco Tranças Mágicas da Paz. Literatura Infantil e Juvenil

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

Num tempo de discursos de ódio, uma sugestão de leitura acompanhada de uma  recensão à obra. 

Para miúdos, graúdos, professores e animadores

 

 

 

 

 


 


 

 


 

           

 

 

            


Ynari e as Cinco Tranças Mágicas da Paz

- O Outro e o Valor das Palavras -

Por

Domingos Boieiro

Resumo[1]

A partir de Ynari, A Menina das Cinco Tranças[2], procuramos reflectir sobre o valor da literatura para a socialização e convivialidade reconhecendo-lhe um valor formativo e transformativo. Este livro, que tenho dificuldades em definir, é uma parábola, é uma alegoria com grande valor simbólico sobre a necessidade de entendimento no mundo, apesar das diferenças e diversidades. Chega-nos de uma geografia africana, Angola, terra marcada pela guerra. A guerra tem um valor  universal de desconcerto e desequilíbrio universal. Por isso, esta obra é uma parábola que não tem fronteiras adquirindo um estatuto de universalidade.

O objectivo central da obra é destruir a palavra guerra através do diálogo, do poder da palavra e do poder da magia que reside no coração, é inventar palavras/valores que produzam a paz e a amizade entre os homens. É uma viagem pelos sentimentos conduzida por uma criança com poderes mágicos que se vão revelando no caminho com o outro, um homem mágico muito pequenino com um grande coração e, com os outros, cinco aldeias, que estão em guerra sem sentido: Os que querem ouvir, os que querem falar, os que querem ver, os que querem cheirar e os que querem saborear.

Por cada aldeia, Ynari através da oferenda de uma trança e da magia que lhe vêm do coração permuta-a pelas necessidades de cada aldeia com base no compromisso de não mais fazerem a guerra à outra.

Esta obra é para todas as idades do ponto de vista da temática do encontro com o outro, do valor do mais velho, do papel dos avós, do valor dos sentimentos, da beleza da partilha, da alegria da amizade e do supremo bem que é a paz e a compreensão entre os povos.

Palavras – Chave: Encontro; Viagem; Velhice; Sabedoria, Coração; Magia; Palavra; Permuta; Diálogo; Valores e Diversidade.

 

 

 

 

 

 

I – Do Texto e Conteúdo

1.                  O Homem Pequenino de Sorriso Muito Grande: O Encontro

O autor começa com Era uma vez, recorrendo à técnica subjacente ao conto[3] para nos sugestionar para um mundo narrativo maravilhoso e fantástico: «Do capim alto saiu um homem muito pequenino com um sorriso muito grande» (p.9). O homem era pequenino, mais pequenino que uma menina. Este elemento transporta-nos logo na fase inicial para um mundo ficcional onde o maravilhoso e o fantástico estão presentes. O homem não tem nome, anda devagarinho e sorri. Cria-se entre ambos de imediato uma empatia enorme, sem medo sentam-se na relva a conversar. Nasce uma amizade imediata.

As diferenças de tamanho e as características de cada um não os impediram de dar as mãos e caminharem lado a lado, falarem, olharem as estrelas e ficarem com vontade de voltar a encontrar-se.

Neste encontro percebemos que o tamanho como diferença não conta. Começa a dança misteriosa das palavras:

a)      «Pequeno» e «Coração»

“- Sim, somos todos mais pequenos que vocês, quer dizer, depende daquilo que entendemos por «pequeno». Não achas?

- Nunca tinha pensado nisso. Sempre pensei que uma coisa menor fosse uma coisa pequena...

- Pode não ser assim... conheces a palavra «coração»?

- Conheço! – sorriu Ynari. – E não é só uma palavra, é isto que bate dentro de nós – e mostrou no seu peito onde o coração batia.

- Claro, e... O coração é pequeno para ti?

- É... e não é! Cabe tanta coisa lá dentro, o amor, os nossos amigos, a nossa família...

- Vês! – disse o homem mais pequeno que ela. – Às vezes uma coisa pequenina pode ser tão grande...” (pp. 10-11).

b) «O medo»

 “- Não tens medo dos bichos? – ela perguntou

- Não. Os bichos não fazem mal nenhum... E mesmo a palavra «medo» pode ser vivida de várias maneiras.

- Mas quando estás perto de uma palanca negra gigante, tens medo, ou não?

- Sabes, Ynari, nunca estive muito perto de uma palanca negra gigante, embora já a tenha visto muitas vezes. E tu?

- Eu só a vejo ao longe.

- A palanca negra gigante correu até perto de ti, fez-te mal?

- Não, nunca.

- Vês... Não precisas de usar a palavra «medo».

- Também acho...- disse Ynari, dando a mão ao homem simplesmente pequeno” (p.12).

Depois do encontro e do nascimento de uma bela amizade, com os olhos no céu as estrelas brilhavam no escuro e Ynari teve de regressar a casa para os cuidados e mimos da avó

O texto permite-nos a inferência da compreensão do papel do ambiente envolvente: o rio, o capim o céu e as estrelas. Tudo está lá para preparar a magia da viagem que ambos vão empreender para acabar com a guerra. Depois deste primeiro encontro veio a noite e o sonho.

Com Ynari já de regresso à aldeia o autor introduz (pp. 14-15), também a temática ambiental quando  explica que os caçadores só caçam para  comer e atribui à avó, muito velhinha o papel de cuidadora e protectora[4].

 

2.      A Viagem: A Palavra e a Magia para Acabar com a Guerra

Depois de uma noite de sono e sonho, Ynari regressou como combinado ao encontro com o homem pequeno e assistiu à guerra entre dois grupos de homens que se matavam uns aos outros.

Após a batalha os homens puseram-se a dormir, e o homem pequeno aproximou-se deles e com a sua magia transformou as armas em armas de barro (p.17-18). O autor introduz aqui outro ingrediente, o da magia que tudo consegue. Mão na mão partiram para a aldeia do amigo onde as pessoas viviam nas árvores. Era uma aldeia que não tinha “Soba” (chefe).

O homem pequeno apresentou a Ynari um velho muito velho e especial: Era o inventor de palavras. Depois apresentou-lhe uma velha, muito velha e especial: Era a destruidora de palavras.

A partir daqui há palavras que se inventam e palavras que se destroem. Ynari foi presenteada com uma pequena festa iniciática no mundo da magia.

Cada um tem de descobrir a sua magia! O velho e a velha apenas lhe deram uma palavra: “permuta”. Ynari pergunta pela fórmula e é-lhe respondido que a fórmula está dentro do seu coração. Esta situação, do ponto de vista da leitura do texto, provoca no leitor um efeito de mudança, porque passa a ter uma acção mais dinâmica de encontro com o objectivo central, que é acabar com a guerra. A palavra “permuta, como troca justa vai facilitar a resolução das necessidades das cinco aldeias. O leitor é tocado pelo espírito de missão, abre-se ao mistério da aventura para contribuir para a paz nas aldeias. O texto ganha definitivamente o leitor porque o espírito deste foi tocado pela magia daquele. Qualquer criança ou adulto ao encontrar-se com o livro desta forma experimenta uma alegria enorme de participar na harmonização das relações entre os homens. A partir daqui a leitura e reflexão começam a fazer o leitor participar na história.

Também nesta fase está conferido o papel fundamental que o mais velho tem na mediação e resolução dos problemas. A velhice, aqui no texto e na geografia da acção está associada a sabedoria. Mensagem muito importante para a criança de hoje, no mundo ocidental, que é constantemente confrontada com a ideia de juventude eterna como modelo social.

Armada com as suas cinco tranças, a capacidade de diálogo, a sabedoria das ervas, consciente da sua utilidade e a fórmula no coração, Ynari vai começar a permutar e descobrir a sua magia: Acabar com a guerra:

- Na aldeia que não ouviam, na que não falavam, não que não viam, não que cheiravam e na que não saboreavam a todos suprimiu as suas necessidades com um compromisso: Não lutarem mais e acabar com a palavra guerra. “Vitória, vitória e assim a acabou a história”.

 

3.      Síntese

“ A camaradagem que possa existir entre vós será sempre frutuosa. Poderás ajudá-los na aprendizagem da língua e dos costumes da tua terra; eles poderão falar-te do país deles e da maneira como lá se vive. Mas, volto a repetir, não é por o teu país ser mais rico e mais industrializado que a sua civilização é superior. O valor dos homens não se mede pela produção das suas fábricas ou pelo número de automóveis.”

Denis Langlois

 

Este livro tem todas as condições para ajudar as crianças a aceitar-se a si e ao outro tal como é: Gordo, magro, amarelo, branco, negro, alto, pequeno, vermelho...Este tipo de literatura é um excelente meio de introdução de uma educação para os valores da tolerância, solidariedade e da paz e da diversidade cultural. Constitui-se como meio, texto e ilustrações, para que a criança leitora tome consciência de um mundo plural com culturas diferentes para conviver e para compreender o valor da amizade na diversidade.

É também um livro de “viagens” ou de viagem pela sensibilidade e pela aprendizagem que provoca na criança a vontade de pensar sobre as palavras, olhar para o interior dessas palavras e maravilhar-se com as pequenas coisas que vão acontecendo ao homem pequeno e a Ynari no seu mundo. Alarga-lhe a visão do mundo para lá da linha do horizonte.

 

II – Exploração e Intervenção Pedagógica

  1. A Literatura e a Diversidade

Chegou o tempo de reconhecer a interdependência cultural. Propomos que o princípio do respeito pela diversidade de culturas seja decisivo para a nossa nação, e afirmamos que o direito à diversidade cultural existe. Acreditamos que a sala de aula é um dos lugares onde esta interdependência cultural tem de ser reflectida.”

(Comissão do Desenvolvimento e Revisão dos estudos Sociais do Estado de Nova Iorque, 1991)

 

É nos verdes anos que tudo se joga na aceitação e compreensão da diferença porque ninguém nasce a odiar, e esta obra estará em faixa larga adequada ao fim do 1º ciclo e ao 2º ciclo (9 /12 anos). Esta obra insere-se num tipo de literatura temática que pode desempenhar um papel extraordinário para a abordagem, estudo e reflexão sobre as características culturais e os estereótipos culturais. Com acréscimo de razão, em turmas com composição étnica diversificada. Ynari, é uma menina que destinada a ofertar as tranças com que nasceu para a obtenção da paz serve de modelo para combater o negativismo e a rejeição em relação ao outro: causas de todas as guerras e incompreensões.

Ynari, simbolicamente, ao ir perdendo as tranças uma a uma em prol da paz tem algo de sacrificial e ensina-nos que para que a paz impere é preciso sacrificar tempo de diálogo e dedicação activa para alcançar a «permuta» com base no compromisso. Todos os beligerantes deveriam ser obrigados a ler Ynari.

“[...] Mas não, a palavra «guerra» é parecida com a palavra «desaparecer», que é parecida com as palavras «deixar de viver». A partir de amanhã não procurem mais a palavra «guerra» porque ela vai deixar de existir.”

                                                                                                                                     Ynari

 

  1. Ynari e o Desenvolvimento Psicológico da Criança

É necessário conquistar e possuir o livro, lutando com ele, lendo-o. E a criança pode ser iniciada nesta batalha se formos capazes de lhe estimular o desejo e o gosto pelos livros, pela literatura escrita para ela, pela imagem que expressa o primeiro elo nesta  apaixonante aventura de ler a fundo, de ler e entender, de reflectir e gozar e viver as mil situações e peripécias em que os livros nos iniciam, em que a literatura nos faz penetrar.”

Mercedes Gómez del Manzano

 

O encontro com o homem pequeno e as viagens pelas aldeias em guerra são trilhos de aprendizagem que permitem a maturação e o desenvolvimento psicológico de transição da criança. Ynari aprendeu a conhecer o significado da palavra «medo», a expiá-lo e a exorcizá-lo. Aprendeu que se podem inventar palavras para sempre como «despedida», que não tem que ser definitiva podendo as pessoas encontrar-se sempre física ou mentalmente. Na palavra «despedida» encontrou a saudade e  o encontro. É um texto cheio de simbolismo.

É uma narrativa existencial de um mundo onde se sofre, onde há dor e conflitualidade inerente à vida. Ynari é um hino à sensibilidade e ao valor e magia da palavra. Na palavra «explosão» encontrou a sua adequação à beleza das explosões das estrelas que riscam e iluminam o céu no escuro e a explosão da alegria resultante da felicidade. Na viagem Ynari cresceu e amadureceu.

 

  1. Ynari e a Consciência Ecológica

“Ela gostava muito de passear perto da sua aldeia, ver o campo, ouvir os passarinhos, e sentar-se junto à margem do rio.

[...]Amanhã estarei ali, no mesmo sítio onde hoje nos encontrámos, junto ao rio, junto ao nascer do sol.”

   Ynari

 

 Ynari nos encontros com o homem pequeno vai aprendendo a olhar a natureza e valorizá-la, e a vida vai ganhando valor “na palanca negra gigante” ou no olongo morto apenas para alimentar a aldeia.

No contacto com a natureza, sentada no capim a ver o descambar do sol,  a olhar as estrelas e o céu  vai percebendo o mistério da vida e a nossa posição no universo. No seu rio vê os peixes, as águas calmas e mansas como elementos naturais fundamentais á existência.

E é também enquadrada por este espaço natural que  vai descobrindo também a capacidade de sonhar, sendo-lhe revelada pelo “sonho” o mistério das suas tranças e o sentido da sua existência com uma missão: alcançar a paz. Ynari é uma narrativa comprometida, com uma causa maior e universal que é a convivência entre todos e uma justa e equilibrada distribuição dos bens, neste caso, do ouvir, ver, falar, cheirar e saborear. Estamos perante um texto com valores éticos e ecológicos que procura um sentido para a vida das comunidades. Por tudo isto, Ynari é também uma ecologista comprometida.

 

  1. Ynari é Identidade Social e Cultural

“- Quando é que nos voltamos a ver? – perguntou Ynari.

- Sempre que quisermos.

- Mas tu vives tão longe...

- Há muitas maneiras de se ir muito longe – disse o homem pequeno.

- Diz-me uma.

- Tu sabes...

- Achas que posso apanhar boleia do humbi-humbi?”

                                                              Ynari

 Nota: O Humbi-Humbi é uma ave de Angola muito apreciada e bonita; é um símbolo de identidade.

 

      Existe nesta narrativa uma vertente social, relacional do Eu com o Outro, necessária para o equilíbrio da comunidade a que pertence. Isso surge quando Ynari diz que é preciso “olhar”, ou seja, é urgente aprender o valor do olhar franco e aberto. Há sobretudo na parte final da obra destacadamente uma profunda reflexão sobre o homem, sobre África e a sua condição no mundo. É a função moral do conto!

     Em todo o texto, Ondjaki, associa Ynari à identidade cultural africana, multiétnica em termos representativos e em termos de vontades. Daí os velhos criadores e destruidores de palavras como condição para a criação de uma linguagem que leve a uma realidade social convergente. Ondjaki quer chamar a atenção para a problemática da identidade e para o peso que a linguagem tem na dimensão do sentido  de pertença identitária e de coesão nacional. Estamos a falar de Angola com vários dialectos e etnias.

    «Esta aldeia não tem soba». De facto, representação, vontade e linguagem são as marcas determinantes da identidade. Para Ondjaki, em Ynari o que se percebe é um sentido de demanda para a vida com emoção e afectividade. As palavras que são precisas ser inventadas para reconhecer o outro: «permuta»; «amizade»; «olhar»...Ondjaki é sociólogo! A identidade social e cultural funda-se na procura de pontos comuns e na aceitação da diversidade. Ynari, representa esse processo contínuo de procura de identidade na diversidade, pelo sonho, pela fantasia, pela magia do coração. É um texto universal.

 

  1. Ynari e o Currículo

As reflexões feitas sobre Ynari trazem a possibilidade de poder focar, além de outras temáticas (valores, amizade, diferença), o tema da interculturalidade.

Nas últimas décadas, a sociedade portuguesa tem-se caracterizado por uma crescente diversidade étnica e cultural. Este é um fenómeno inerente ao processo acelerado de globalização das sociedades e dos movimentos migratórios.

Em Portugal esta diversidade é particularmente notória devido às relações seculares que o nosso país mantém com povos de outros continentes.

A imigração tem vindo a fazer da nossa sociedade um local de encontro de diversas culturas. Este fenómeno coloca novos desafios aos professores em termos de mudança das suas práticas de modo a torná-las inclusivas da diversidade dos seus alunos, sendo a escola um dos principais locais onde os fenómenos sociais e as diversas maneiras e concepções de vida social mais se fazem notar. O currículo da escola deve assim trabalhar em prol da formação de identidades abertas a esta pluralidade cultural, «desafiadoras» de preconceitos, numa perspectiva de educação para a cidadania, para a paz, para a ética nas relações interpessoais, para a crítica às desigualdades sociais e culturais.

Interculturalismo é sinónimo de reconhecimento do pluralismo cultural, quer dizer simultaneamente da afirmação de cada cultura, considerada na sua identidade própria e na sua abertura às outras, de forma a estabelecer com elas relações de complementaridade.

A afirmação da identidade assenta na convicção de que todas as culturas são relativas a um determinado meio ao qual pretendem dar uma resposta eficaz, pelo que nenhuma delas é universal ou intemporal.

A complementaridade significa que qualquer cultura sai enriquecida do contacto com os outros transformando-se e desenvolvendo-se. O multicultural e pluricultural são de ordem descritiva, quando dizemos que uma sociedade é pluri ou multicultural queremos dizer que essa sociedade agrupa indivíduos de culturas diferentes.

Esta pedagogia requer a dinamização das relações da escola com as famílias no sentido do diálogo, da participação e da co-responsabilização.

A educação intercultural é assim um recurso e uma forma de enriquecimento para todos.

Cabe-nos a nós adultos e à escola transformar a mentalidade das nossas crianças e, progressivamente das respectivas famílias para que possamos viver em harmonia não só no espaço-escola, como também no espaço-sociedade ao qual todos pertencemos. Trabalhar Ynari na escola é um pequeno contributo.

Como tem vindo a ser referido, e Ynari permite-o, a interculturalidade deve constituir uma perspectiva transversal a todo o currículo podendo atravessar todas as áreas, seja nas disciplinas sociais e humanas, nas línguas, na matemática, nas ciências ou nas áreas de expressão.

 

6.      Sugestões e reflexões para exploração de Ynari

 A literatura infantil deve satisfazer a fantasia da criança; criar-lhe um mundo rico em possibilidades recreativas e gratificantes; dar entrada, sem complexos, aos interesses morais, sociais e técnicos; facilitar um deleite estético adequado à idade dos leitores.”    

Mercedes Gómez Del Manzano

 

     As actividades para exploração do texto icónico e do texto verbal devem começar sempre pela capa do livro, contra-capa, prefácio, capítulo, badanas...A capa transporta sempre muita informação (título, autor, ilustrador...).

 Para a Exploração de Ynari:

  • Com base na capa do livro (título, ilustração) solicitar aos alunos a escrita de um texto.
  • Esse texto pode ser uma proposta de antecipação da história. Que história contará este livro?
  • Com base na contra-capa do livro, solicitar às crianças que escrevam um texto, tendo como ponto de partida a ilustração e pode abordar os possíveis temas do livro.
  • Explorar só o texto icónico, com o seguinte percurso:

1-      Leitura do código plástico.

2-      Da leitura do código plástico à expressão escrita.

3-      Da expressão escrita às múltiplas leituras do código plástico.

4-      Leitura parcial ou total do código escrito, o professor propõe número de páginas a ler.

5-      Colocar questões de expectativa.

6-      Reconto do código escrito.

7-      Partilha de leituras pessoais - desenrolar da acção/ textos escritos onde os alunos, deverão fazer uma leitura reflexiva da obra.

8-      Perguntas de expectativa.

9-      Partir para o texto biográfico.

10-  Construir uma narrativa a partir de imagens.

11-  Produção de texto descritivo (descrever uma imagem)

12-  Reconto da história num outro espaço, ou introduzindo outras personagens.

13-  Introduzir outras possibilidades...

14-  Escrever sobre temas abordados na obra; o valor da amizade; a questão da diferença; a questão da guerra...

Ou,

LER! SIMPLESMENTE LER!

Os alunos deverão falar dos textos com as suas próprias palavras... É talvez a mais importante sugestão para o texto de Ondjaki.

 

7.      Síntese: Funções da Literatura Infantil

 Sistematizemos as funções da LIJ:

  • Função Lúdica, deve dar prazer às crianças, (a criança vai estabelecer uma relação afectiva com o texto);
  • Função estética;
  • Função de modelização do mundo;
  • Função formativa, transformativa e educativa.

Através de textos literários como o de Ynari, podemos levar as nossas crianças a conhecer o mundo e os temas mais actuais da nossa sociedade.

Por Educação literária entendemos a adopção de uma metodologia que  dote a criança com um conjunto de saberes culturais, literários e sociais, que lhe permitam descobrir modelos, palavras convencionais, símbolos, mitos, acontecimentos, e ter uma reacção individual com  uma obra literária.

     Quanto mais lermos intertextos como os de Ynari mais possibilidades temos para desenvolver esta competência. Uma criança que não tenha a sua competência literária desenvolvida é difícil depois ler com autonomia e independência outras literaturas. O professor deve desempenhar uma função de facilitador e «diversificador» de estratégias na promoção de uma educação literária.

     O texto literário não se ensina! Através do diálogo as crianças são capazes de dar razões, ou seja, racionalizar e penetrar no texto. O texto literário é ficcional, aposta na literalidade, no ”estranhamento” e no discurso de natureza não pragmático.

     Serão as crianças capazes de uma leitura distanciada, atenta ao funcionamento de textos como o de Ynari?

    Conseguirão aceder à dimensão simbólica?

            Obviamente que sim!

 

Domingos Boieiro

 

Notas Finais



[1] Este trabalho, da unidade curricular de Literatura Infantil e Juvenil, tal como indicado, inscreve-se na temática da relação entre os outros e a diversidade cultural e na necessidade de diálogo cultural. A literatura pode ser um contributo inestimável para a criança aprender a ler o mundo e adquirir uma educação para os valores de cariz universalizante. Com a escolha desta obra, aprende-se que é possível, através do diálogo, o entendimento e a promoção do valor da paz como condição para a felicidade e prosperidade dos povos.

[2] Ficha Técnica da Obra Seleccionada: Ondjkaki (2004). Ynari, A Menina das Cinco Tranças. Lisboa: Caminho. Contou com o valioso contributo de ilustração da Danuta Wojciechowska. Embora as ilustrações sejam muito bonitas, valorizem a lisibilidade do texto e estejam articuladas com a ambiência envolvente e com os personagens principais, este é daqueles textos que não precisaria do discurso significante da ilustradora para ser entendido no processo narrativo e de leitura compreensiva.

[3] É uma obra que vive muito pela sugestão, pelos personagens e pela geografia da oralidade. É sem dúvida um conto, uma narrativa do mundo, intemporal e onde podemos identificar, nesta sinonímia, o apelo do autor, desde a fase inicial, ao nosso imaginário para a narrativa existencial que se vai desenrolar.

Em Glória Bastos (1999). Literatura infantil e Juvenil. Lisboa: Universidade Aberta, pp. 68-74 aprendemos os ingredientes necessários a uma narrativa inscrita no âmbito do conto. Depois de citar Georges Jean, Glória Bastos dá-nos uma visão sobre o poder do conto para o desenvolvimento da imaginação, «[...] considerada como uma faculdade essencial do homem, particularmente fecunda durante a infância, e determinante para os processos de desenvolvimento da pessoa, tanto culturais como afectivos, sociais e individuais» (1999: 68).

[4] Logo nas primeiras páginas, o leitor consegue interpretar o significado da abordagem  da história e identificar-se com o texto. O leitor fica pronto para seguir a viagem até ao fim. Consegue-se quase de imediato inferir o contexto e compreender a ideia principal. Estas primeiras páginas deixam-nos atentos e presos para sermos activos e reflexivos sobre a narrativa. Ansiamos passar para a página seguinte para saber como vai acontecer.

 

 

Bibliografia Referencial

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