Alandroal: Um caso sério de urtigões...
Alandroal: O Caso dos Urtigões e Urtigas…
Património. Etnobotânica.
Estas notas sobre a urtica dioica (urtiga/urtigão comum), várias são as espécies, resultam do trabalho de recolha etnobotânica que realizei no Alandroal entre 2002 e 2006. Minha terra natal e de identidade.
Vamos falar da urtiga que pica, que apesar das semelhanças não pertence à mesma família da urtiga branca, que não pica. Têm ambas algumas propriedades em comum. Mas aqui, no Alandroal, vamos falar apenas da que pica e, que pode ser designada por “ortigão, urtiga, urtigão”. A urtiga branca é pouco comum nas nossas terras de Endóvélico, entre o Lucefecit e o Guadiana.
São muitas e diversas as plantas e ervas que constituem o nosso repositório colectivo de medicina popular mas os urtigões tem algumas peculiaridades que importa descrever mais exaustivamente. Eu diria mesmo que é um caso sério na etnobotânica e etnofarmacologia.
Quem sentiu já a picadela irritante dos urtigões só pode achar que é uma erva maldita sem utilidade alguma, mas não é assim. Foram descritas várias utilizações:
a) Para o reumatismo “é muito bom, esfrega-se no sítio das dores e estas passado algum tempo aliviam”;
b) Para a circulação do sangue “aonde o sangue não corre faz-se uma esfrega e as veias ficam logo irrigadas”;
c) Um chá de urtigas é bom para “purificar o organismo, expulsa o mal”;
d) “Moídos e misturados com farinha de trigo e mel são óptimos para combater o enfezamento das crianças... combatem o raquitismo e anemia”;
e) São ricos em ferro;
f) Cozidos e misturados com farelo são um excelente alimento para dar aos perus quando pequenos. É uma “comida que aquece os bichos e fá-los crescer...”;
g) Um chá frio de urtigões “é muito refrescante e mata a sede e também nos faz urinar... mete os rins a trabalhar...”
h) “ É também muito bom para expulsar as lombrigas... misturados com sementes de abóbora e hortelã, adoçada a mistura a gosto e tomada às colheradas...”
i) As suas picadelas são irritantes e podem provocar alergias e urticária mas quase “sempre junto dos urtigões há uma planta que é o mentrasto que cura a irritação esfregando no sítio da picadela”. É caso para dizer onde “está o mal está a cura” O mentrasto tem um efeito tópico calmante . Os urtigões e o mentrasto, a chamada menta bravia estão sempre próximos;
j) Existem várias espécies de urtigas na grande família das urticácias e quase todas tem efeitos anestésicos .
k) “Também misturo urtigões cozidos com aveia para dar às bestas... é um alimento forte.”,
l) “Água de urtigões misturada com vinagre e mel é muito bom para a garganta, para as anginas... pode-se beber ou fazer só gargarejos”,
m) "Folhas de urtigões enroladas num lenço fino embebido em azeite é muito eficaz para friccionar o peito e as costa em caso de pneumonia..."
n) "Folhas secas feitas em infusão são expectorantes, boas para limpar as porcarias dos brônquios...";
o) "É boa para a sarna e a tina, faz-se uma água de urtigas com açúcar preto, bebe-se e aplica-se na pele..."
p) " Em sumo ajuda a parar as hemorragias..."
q) "Quando é urgente fazer uma pessoa vomitar para libertar qualquer veneno pode-se dar folhas frescas com um colher de azeite..."
r) " Pode-se dar às galinhas urtigas com farinha para nos darem mais ovos e para chocarem melhor.";
s) Foi também referido que o chá de urtigas "é bom para a gota"
As urtigas e urtigões são palavras que se usam para agredir ou gozar o outro: "Vai mas é às urtigas" ; "Passa os tomates pelos urtigões"; "Deita-te numa cama de urtigas"... No entanto, o povo na sua imensa sabedoria usa urtigas e urtigões com fins curativos para os seus males reumáticos, circulatórios, respiratórios, urinários e também como tonificante e revigorante para os animais.
Uma erva que no imaginário mais superficial tem uma carga negativa, mas na medicina popular tem usos de grande ajuda em muitas aflições.
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