As Hortas Urbanas: O ser humano deseja regressar ao campo

As Hortas Urbanas: O ser humano deseja regressar ao campo

Aqueles que amam a natureza, nunca estão sós!

(popular)


Desde o momento em que nos transformámos, durante a transição para o Neolítico, de caçadores-recolectores em pastores e agricultores, que a nossa relação com a natureza se começou a alterar e nos afastámos cada vez mais da natureza.


A revolução industrial, a urbanização, o aumento demográfico, a litoralização das atividades, a intensificação e mecanização agrícola, fizeram com que não saibamos mais o que comemos, de onde vem, como é produzido, que qualidade, que impactos ambientais produziram os alimentos que chegam à nossa mesa. São interrogações do homem moderno que o fazem querer regressar a um ambiente mais natural, mais próximo da natureza e dos ciclos biológicos ancestrais.


É aqui que entram as hortas urbanas mais ou menos biológicas, mais ou menos utópicas, mais ou menos funcionais, mais ou menos naturais, pois elas são influenciadas e coloridas pelo meio e moldadas pelas nossas perceções culturais do que é ser natural.

Ribeiro Teles, o querido arquiteto Ribeiro Teles, sempre defendeu o regresso das hortas à cidade e aos seus limites para produzir alimentos, para reduzir a dependência da cidade, para valorizar os espaços, e para reduzir a nossa pegada ecológica, e ajudar a evitar a erosão dos solos, bem como para melhorar a paisagem visual do território urbano.


Nestes tempos de “pandemias” quem tem a felicidade de ter um pedaço de terra para colocar as mãos e respirar, de certeza que é mais feliz, sente-se mentalmente e fisicamente muito melhor.

Aproximação rápida ao conceito

Uma horta urbana é um espaço, um pedaço de terra cultivado, em ambiente citadino. Pode ser na varanda, no quintal da casa, no logradouro, no telhado, no terreno abandonado ou ao lado da piscina, na vivenda. A ideia de horta urbana corresponde ao nosso pulsar rural ancestral. Representa o nosso desejo de regresso à natureza e de aproximação aos saberes antigos. A horta urbana de que pretendo falar é aquela que consegue resgatar territórios, degradados e abandonados, nas cidades, para o cultivo. Terrenos mais ou menos amplos, com ou sem propriedade definida, terrenos baldios ou municipais, é esta a horta onde a comunidade pode ter o seu talhão.


Dez notas de felicidade sobre as Hortas Urbanas

Dez razões que os poderes públicos e todos aqueles que pensam e decidem a cidade devem ter em conta na valorização e promoção das hortas urbanas como espaços coletivos:


1.      A sua importância na construção social de relações comunitárias. Este coletivo de hortelões partilha e interage melhorando, desta forma, as relações sociais e a coesão comunitária;

2.      A instalação de uma horta é um sistema que atenua e quebra a monotonia do edificado, introduzindo uma grande diversidade de elementos na paisagem. Destes destacam-se os apetrechos, as ferramentas, os equipamentos, as vedações e até as ornamentações, bem como os elementos vegetalistas na paisagem;

3.  Em determinados locais, as hortas urbanas servem também de corta-ventos, de barreira natural ao isolamento sonoro de taludes de sustentação de terras. São elementos essenciais na retenção de águas e no combate à erosão dos solos;


4.   A diversidade vegetalista e ornamental que introduzem no meio permitem uma sensação de tranquilidade e bem-estar, quer aos hortelões, quer a quem olha. Podemos dizer que há aqui uma melhoria global do bem-estar urbano;


5.      Melhoram, em termos visuais, a qualidade da paisagem urbana, diminuindo a frieza do cimento e do ferro;

6.      Fomentam a diversidade ambiental, indispensável à melhoria da biodiversidade. Estas hortas são refúgio e abrigo de insetos polinizadores indispensáveis à vida humana, apoiando, assim, o desenvolvimento dos ciclos biológicos;

7.   Este conjunto de talhões, assim entendidos, são também fundamentais para algumas famílias equilibrarem o seu orçamento familiar e, ao mesmo tempo, colocar na mesa alimentos de qualidade;

        Para outros, estes talhões são o ginásio, o espaço de meditação, o contacto com o natural, que melhora o bem-estar do corpo e da alma;


9.       Podem ser espaços para o desenvolvimento da educação ambiental e da educação para a alimentação saudável. As escolas e as autarquias podem e devem valorizar as hortas, de modo a ilustrar essas aprendizagens;


10.           Por fim, as hortas são espaços de felicidade, de regresso do nosso ser interior ao campo. São espaços que permitem rasgar a cultura urbana.



                   As fotos foram tiradas nas Hortas Urbanas da Vila Chã, Barreiro


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