Évora nos papéis… Antunes da Silva

Évora nos papéis… Antunes da Silva

São impressões, registos, pequenos textos, poemas, estórias e histórias, sentimentos e opiniões dos outros sobre a minha cidade da alma e da pele, que me ajudam a mitigar a saudade e me deixam mais perto! Antologias de Évora.

Foto: https://dicasdelisboa.com.br/evora/catedral-de-evora/

“[…] Enfim Aureliano  Pinguelha deixou de ir aos concertos. Deixou de se entreter na loja de mestre Hilário barbeiro. Deixou de dar passeios ao campo. Agora, nutre uma desabalada paixão pela Igreja. Fala de cor e salteado sobre as origens e vicissitudes porque passaram o Santo Lenho da catedral de Évora e sobre a inigualável arte dos vitrais do altar-mor do mosteiro de São Brás. E reza. Reza apaixonadamente, confessando-se todos os sábados ao padre Amorim, ciciando, “sou um pecador!, sou um sevandija, tenho uma amante portas adentro”… Ou fala as tardes inteiras com o sacristão, velho como ele, das saudades dos tempos em que não havia ares poluídos, em que se descobriram grandes cardumes de peixes nos oceanos […]. A troco de meio decilitro de aguardente, o sacristão, por sua vez, narra, o mundo acidentado do cristianismo, a odisseia dos santos mártires, a grandeza de Deus nas alturas, fala dos lobos e cordeiros e critica o padre por se embebedar às terças e quintas, aceitando somente dar confissão às mais belas mulheres do burgo…

A senhora Maria ficou muito satisfeita com a transformação dos hábitos do seu amo.

[…] Mestre Hilário barbeiro um dia disse-lhe:

__Tenha cautela vizinho… Já viu, depois de velho, a tornar-se beato? […]”

 Antunes da SILVA. Alentejo é Sangue. Livros Horizonte, 3ª edição, Lisboa, pp. 78-79

 

 A catedral de Évora vista de um balão de ar quente.  Foto: https://www.visitevora.net/se-catedral-evora/