Torre do relógio da CUF: O rigor do tempo de trabalho (Barreiro)
Torre
do relógio da CUF: O rigor do tempo de trabalho
No campo, o sino, do
latim signo (sinal), é masculino, é
um instrumento que desempenha um papel de controlo importante no mundo rural. A
par do galo e do sol, é quem marca o ritmo de vida coletiva no campo. É ele que
faz rir, chorar ou cantar e que faz trabalhar ou folgar. É ele também que toca
a rebate no fogo ou na guerra.
No espaço urbano
moderno, o sino ainda se mantém a marcar o ritmo da vida comunitária, nas horas
e na religião. No trabalho, é o relógio que se impõe na entrada da fábrica, na
gare ferroviária, na porta de entrada do escritório e na torre da fábrica. É o
relógio que marca o ritmo.
Com a invenção do
relógio mecânico, o relógio solar, a ampulheta e o relógio de água foram
perdendo lugar, mantendo-se apenas como memórias de outros tempos.
O relógio mecânico foi
descoberto no século XIII, desenvolveu-se no século XV e XVI, dando origem a um
relógio de bolso. Depois, apareceu o relógio de pêndulo…
No final do século XIX,
surge, em 1904, por Louis Cartier, o relógio de pulso. A seguir, o de quartzo,
em 1930. Atualmente, temos o digital e o atómico, capazes de medições de tempo
até cem mil vezes mais precisas.
O relógio da Torre do Barreiro é da mesma marca e
tipologia do relógio da gare dos comboios Sul e Sueste. É um relógio de quartzo
da marca Poll Garnier. É de ressalvar que o uso desse mineral tornou os
relógios mais precisos. Este tipo relógio, presente na torre da CUF, faz parte
de dezenas de estações de caminhos de ferro portuguesas.
Este fabricante dos
chamados relógios de estações foi, neste período de transição do século XIX
para o século XX, o maior fornecedor da Europa. Eram relógios que podiam ser
instalados de forma suspensa ou aplicados em colunas ou paredes. Atualmente,
são um património cultural que importa estudar, proteger e divulgar.
A
Torre de Relógio da CUF
É neste contexto de
marcação rigorosa do tempo de trabalho, numa área de concentração industrial,
que o nosso relógio é instalado numa torre, de modo a tornar-se visível de
todos os lados. Esta é uma torre de quatro faces, com um mostrador do relógio
em cada face. A torre do relógio da CUF é datada de 1928. Está ali no meio do
bairro operário, junto aos balneários, ao refeitório e à casa da cultura da
CUF.
A torre do relógio da
CUF marca a introdução o conceito científico taylorista de ritmo de trabalho.
Para além disso, serviu para albergar a mais moderna estação telefónica, e de
telégrafo, não só da CUF, mas do próprio país.
Alfredo da Silva, oriundo
de uma família abastada e apoiante de João Franco, depois de Sidónio Pais e,
por último de Oliveira Salazar, cresceu à sombra do poder, aproveitando-se
destas ligações políticas. De uma pequena vila ribeirinha fez, no século
passado, a maior cidade industrial.
Os edifícios que formam
o complexo da CUF espelham o processo de fusão das empresas de Alfredo da Silva
com as empresas de Henry Burney. A partir de 1889, o Barreiro foi palco do
início de uma verdadeira concentração industrial. A chamada “Praia do Barreiro”
transformou-se num imenso estaleiro de empresas. Milhares de operários
trabalhavam e viviam, paredes meias, com o complexo industrial. É esta imagem
industrial que testemunha a afirmação do capitalismo industrial no nosso país.
É pois aqui, desde 1928, que situamos a nossa torre do relógio, a marcar o
ritmo de trabalho e o rigor. É o relógio que marca as mudanças de turno e o
quotidiano do complexo e da vila.
Esta torre aprofunda a
relação entre o espaço, o indivíduo e a comunidade. A nossa torre do relógio,
enquanto lugar patrimonial, aviva a memória do espaço e, ao mesmo tempo, dá,
também, elementos visuais à cidade, que contam parte da sua história artística
e estética. É uma lembrança de um passado não muito distante, que ajuda a
complementar a nossa perceção e compreensão da HISTÓRIA DO LUGAR.
História do Relógio:
https://www.infoescola.com/curiosidades/relogio/
Museu do Relógio:
http://www.museudorelogio.com/
Alfredo da Silva, vida e obra:
https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/2489/1/alfredo%20da%20silva.pdf
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