O Conhal do Arneiro: Ouro e Sofrimento

 

O Conhal do Arneiro: Ouro e Sofrimento



O viajante que não esteja preparado com bagagem informativa passará por aqueles enormes amontoados de seixos pensando que ali andaram uma máquinas poderosas a juntar seixos aos montes. Mas tantos montes, isto é demais: é uma exploração  de brita, foi uma pedreira, foi … qualquer coisa, acabará por dizer! E talvez, continue viagem.

Não caro viajante! Este amontoado de pedras, a que a população chama “pedras lavadas”, são seixos rolados de quartzito, aos quais se dá o nome de “conhos”.

O que é um “Conho”

O Priberam, o dicionário, ajuda e diz que é: “.Penedo arredondado no meio de um rio.”. No meio de um rio! Mas então como estão cá fora e tantos “conhos”? Que também pode significar como interjeição: “Chiçaporragaita!”.



Era mesmo um calhau, um penedo que estava no meio do rio, ou nas suas margens. Estes conhos testemunham a extração de ouro e outros minérios que ocorreu na época romana e se prolongou pela idade média, quando o Rio Tejo corria em cotas diferentes das atuais. Os vestígios dessa exploração ocupam uma área de mais de 40 hectares, envoltos hoje pelo mato, olival, estevas, aroeiras e outro coberto vegetal.

 



Subindo a um miradouro natural: O Castelejo

 Quando subimos a este miradouro, chamado  de Castelejo por estar a maior altitude que as “ conheiras”, ficamos com a real dimensão daquela exploração humana de ouro e minerais. Foi  a mão humana que durante centenas de anos e centenas de anos movimentou estes seixos.

O nome Castelejo, também pode estar associado a uma acampamento militar romano.Por certo, nas proximidades estariam os soldados do Império Romano para controlar a exploração mineira e também, qualquer tentativa de evasão ou rebelião. “Paz armada”, chamemos-lhe assim, à vista dos braçais, que procuravam não sucumbir e esperar por melhores dias.

Servidão, escravatura e trabalhos forçados dos vencidos e derrotados. Sangue, suor, lágrimas, dor e sofrimento humano ali mesmo à nossa frente.

É o Conhal do Arneiro: A Mina a céu aberto ali entre a aldeia do Arneiro, no concelho de Nisa, e as Portas de Ródão.


A Área  Arqueológica do Conhal

História e Geologia

[Esta área apresenta indicadores de uma atividade mineira antiga de exploração de jazigos secundários de ouro situados em terraço fluvial, que atingiu o auge no período romano, mas terá continuado em menor escala em épocas subsequentes.

A exploração das formações sedimentares auríferas foi feita por ação hidráulica (ruina montium ou arrugia). A água utilizada no desmonte e posterior lavagem dos sedimentos e evacuação dos estéreis seria transportada desde a ribeira de Nisa em canal ou canais (corrugi) escavados nas encostas da serra das Talhadas (ou serra de São Miguel) até depósitos (piscinae ou stagna) situados a montante das formações a desmontar.

Os amontoados cónicos de grandes calhaus rolados – conhos – retirados manualmente dos canais de lavagem (agogae), e que podem atingir mais de cinco metros de altura, constituem o indicador mais visível desta actividade mineira. Subsiste ainda, próximo do extremo norte do conhal, o Castelejo, um relevo de 15 metros de altura que ocuparia uma posição central entre os canais de evacuação.

É um dos geossítios do Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional].[1]

Vista deslumbrante, com as Portas de Ródão ali. Espetacular a paisagem de pedras lavadas. O Tejo está parado e encerrado entre a Barragem de Cedilho e a do Fratel: Já não corre  com a força necessária para rolar seixos…

Mais um lugar que ganhou residência no coração.



Ver Vídeo:

 Conhal do Arneiro: https://vimeo.com/111399645

Bibliografia:

CARVALHO, Adalberto Dias de (1975) - As aluviões auríferas do Tejo. In Boletim de Minas. Lisboa. 12:1, p. 8.

CALADO, Carlos e CALADO, Carla (2002) - Notícias sobre vestígios de exploração romana de ouro aluvionar no concelho de Nisa: o Conhal do Arneiro. In Actas do Congresso Internacional sobre o Património Geológico e Mineiro. Lisboa: Museu do Instituto Geológico e Mineiro. P. 265272.

Comentários

  1. Existe a palavra coinhal para dar nome ao conjunto de coios, de pedras.
    Saudações.

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    1. De acordo. Mas podemos usar as duas formas. No entanto, está registada a sugestão, e agradeço. Cumprimentos

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