Uma Giesta em Flor abraçada a um chaparro (Alandroal)

Uma Giesta em Flor abraçada a um chaparro (Alandroal)

Floração intensa da giesta comum

Giesta das vassouras, Giesta Brava, Maias, Giesta Comum…

Nome Científico: Spatium junceum

Família: Faboideae

Existem várias espécies. Estamos a falar da comum, da giesta das vassouras. No caso, da Giesta do Alandroal, Alentejo.

É um subarbusto com flores douradas e aromáticas. Folhas caducas. Frutos de vagens negras e peludas.

Giesta amparada pelo chaparro e a esteva

O meu caminho é sempre para o Sul. O Sul da alma, da identidade, dos falares onde moram os alfabetos, das comidas onde mora o mediterrâneo, dos meus rios, do Al-Andalus, do tresloucado e maravilhoso abraço de gentes, paisagens e patrimónios. O Sul é sempre a casa onde regresso. É o meu colo, os braços da avó, os cheiros e os modos de olhar e ver.

Porta de aldeia com Maias de proteção

No passado fim de semana, foi o Sul, a terra e os amigos que me receberam. E, eu recebi, extasiado, na viagem, uma Giesta em Flor, abraçada a um chaparro. Pronto, “porra” tem de ser! Tenho de falar com ela… Esta tinha mais de 2 metros de porte, e pode chegar aos 4 metros! Exemplares foram já medidos… dando aquela medida de porte majestoso. É um arbusto-planta-flor rústico, bem agarrado à vida com grande longevidade.

A Giesta da Maias ou dos Maios da renovação da vida, da purificação, ritual e simbólica estava ali à beira do olhar. Linda ainda, apesar de ser uma Maia em Junho. Os gregos também lhe dedicaram alguns usos nas festas de celebração dos seus deuses maiores e dos seus heróis fundacionais. Todos os povos do Mediterrâneo e do norte de África lhe dedicaram algumas linhas. Na Suméria do crescente fértil, dos grandes rios e nos jardins da Babilónia, por certo, a giesta constava como arbusto lenhoso, maravilhosa flor e resistente sebe naquele mundo vegetal.

Roma não lhe poupou elogios. Os povos pagãos ritualizaram-na. Os Alentejanos receberam tudo isso, são assimiladores, e fizeram da Giesta um elemento simbólico, animista, religioso.

É usada no pau de festa a decorar. Era posta às portas para afastar o mau olhado e a inveja, enquanto símbolo de proteção.

E nas margens do ribeiro de Vale de Cágados, o ribeiro da minha aldeia, fui buscá-la para usos mais práticos, como fazer vassouras com o meu pai e o meu tio. A Giesta-Vassoura usada para limpar a rua irregular, desinfestar e limpar o porco e a pocilga, varrer a cinza do forno e  para trazer na carroça para a limpar dos usos.

Percorri de memória, as margens dos meus ribeiros e das minhas ribeiras de Alcalate, do Azavél,  de Pardais, O ribeiro de Províncios, a Encosta da Defesa no Lucefecit, a encosta do Castelo Velho, ali aos pés do Santuário de Endovélico, a encosta do Pego da Serra, na Boieira, a olhar para os Castelhinhos e as chapadas  xistosas do Covão, junto à Anta do Lucas: o Alandroal das giestas…

A giesta que abraça o chaparro

Em todos estes lugares foi usada, com boa dose de certeza, nos rituais simbólicos do animismo pagão e nos mais estruturados festejos e atos religiosos do cristianismo. Em todo o lado vi as giestas de sempre!

A festa das Maias, é no dia 1 de Maio. Na extremadura e alentejo, o momento alto desta festa da floração e da pureza, consistia no desfile, pela aldeia, das meninas vestidas com a pureza do branco e enfeitadas com flores na cabeça, onde era obrigatória a presença da Giesta.

A giesta das defumações misturada com o alecrim, o louro e a arruda para afastar todos os malefícios que rondam à espreita o lar.

 A giesta dos cheiros que se entranham na memória do perfumista e que não o largam enquanto não lhe extrai os óleos essenciais para cheirar ou passar na pele. É uma planta-arbusto-flor que tem ligação com o corpo e a alma.

A giesta aromática que se mete nas gavetas em saquinhos de cheiro para dar bom ambiente e uma sensação de bem-estar.

A giesta curativa, que alguns tratados de medicina natural, desde os árabes até aos médicos do século XVIII, atribuem aos seus rebentos, por infusão e decocção (cozimento), propriedades diuréticas, purgativas e purificantes. Tem um travo muito amargo que precisa de levar um pouco de mel. Pede mesmo algo adocicado!

A sua floração impressiva dourada e amarela, aqui nas nossas paragens, ocorre entre fim de Abril e fim de Julho, dependendo das condições climatéricas, da posição relativa ao sol e do tipo de terrenos. As suas flores pendentes nas folhas dos ramos parecem saudar-nos como bocas que falam.

Floração intensa e impressiva

Podemos encontrá-la quase sempre na meia encosta, em terrenos nem húmidos nem totalmente secos, resistindo bem ao calor e ao frio. Já vi gente de bom gosto e estética apurada a usar a giesta em sebes decorativas ou em lugar de destaque no jardim. Muita gente trouxe a giesta para dentro de casa. É amiga dos polinizadores. Todos os insetos encontram ali comida e proteção. A sua composição arbustiva é também abrigo e proteção para uma imensa fauna que vai do lacrau e da cobra até ao coelho.

O paisagismo trouxe a giesta paras cidades para decorar e animar, mas também para servirem de corta-ventos em zonas ventosas e costeiras. Os construtores de estradas descobriram-lhe utilização na sustentação de terrenos e taludes.

Frequentemente, na literatura, é também usada de forma alegórica ou metafórica. Fiquemos com este poema, onde a giesta é cantada, de forma célebre, pelas palavras de uma poetisa de quem gosto muito – Cecília Meireles:

“Esta flor
Não é da 
floresta.

Esta flor é da festa
Esta é a 
flor da giesta.

É a festa da flor
E a 
flor está na festa.

(E esta folha?
Que 
folha é esta)

Esta folha não é da giesta.

Não é folha de flor.
Mas está na festa.

Na festa da flor
Na 
flor da giesta.”

 

A festa flor dos nossos sentidos: a Giesta!


 A vagem penugenta do fruto

É preciso preservá-la, compreendê-la e divulgá-la, porque é mais uma marca da nossa identidade patrimonial que, sem cuidados, corre o risco de não deixar a sua impressão de forma devida e duradoira. O cultivo intenso, as surribas para eucaliptização, para vinhedos, para os modernos olivais, e os herbicidas já fizeram alguns estragos.

Flores ao vento

Há lugares onde a paisagem já não regista a sua presença.


Domingos Boieiro

Fotos: Do meu  Huawei  y 6 e da internet (não sei a quem agradecer e citar, porque não consegui identificar os autores...)


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