Finalmente chegaram… AS AMORAS SILVESTRES
Finalmente chegaram…
AS AMORAS SILVESTRES
Na sexta feira, na minha caminhada matinal pela Mata da Machada, reparei que as silvas estavam carregadas de pássaros em estridente chilreada. Eram as amoras que tinham amadurecido em grande quantidade. Ei-las, o tempo das amoras chegou em força: De julho a setembro, com sorte, teremos amoras por esses campos fora…
São amoras silvestres, nada de confusões! Amoras das silvas e não das amoreiras! São conhecidas por amoras das silvas, amoras silvadas, sarças, bagas das silvas.
A rubus fruticosus L. da família das Rosáceas é um arbusto vivaz, por muitos considerado como uma praga a abater e acabar de vez com a sua presença. Cresce praticamente em todo o lado, não é exigente com o tipo de solos, nem com a exposição solar ou com as temperaturas. Cresce junto aos ribeiros e ribeiras, nas margens ou nos vales, pode aparecer em valados, nas bermas dos caminhos. Invadir tudo o que está em ruínas e em pouco tempo esconder da nossa vista uma casa ou mesmo uma ponte abandonada.
Adapta-se a qualquer lugar. Não é do Norte, nem do Sul, é de todo o lado. Espalha-se pelo bordejamento mediterrânico, resiste nas montanhas frias, e aqui na península ibérica é tão democrática que se reparte por todo o lado.
Já no Neolítico (foram achadas em escavações sementes de amoras silvestres em povoados), este pequeno fruto constituía alimento apetecível.
Tem flores brancas e cor-de-rosa, depende das caraterísticas do solo e aparecem com o verão. A floração começa em final de abril e acentua-se maio adiante. Por volta de final de junho os frutos começam a aparecer, primeiro verdes, depois avermelhados e já bem no final de julho o preto do amadurecimento pleno ganha lugar nos cachos de amoras.
São frutos carnudos e globosos. A silva pode atingir alturas até 5 metros, e lançar caules longos com mais de 6 metros. Enrolam-se a tudo o que encontram pelo caminho. Estão bem acompanhados de espinhos e as folhas são do tipo serradas. É um arbusto vivaz muito complexo que forma um verdadeiro labirinto de caules entrelaçados, quase impenetráveis, que servirão de proteção a muita da nossa fauna… É casa do coelho, da doninha, da raposa, do javali e de uma miríade de insetos e pequenos roedores. É dormida, é proteção e refúgio para todos.
Os nossos agricultores , se bem que controlem a sua expansão desordenada, deveriam ser sensíveis à sua preservação em locais onde não fazem mal nenhum às culturas, como em brenhas, ribeiros, declives acentuados, “charqueirões” ou linhas de água fora das zonas de cultivo.
Por esta altura a minha avó entregava-me logo pela manhã um cestinho de verga para eu ir encher de amoras no ribeiro da aldeia. Era onde se encontravam os melhores silvados com as melhores e mais carnudas amoras. Bebiam alguma humidade do ribeiro e ficavam gordas, suculentas e grandes. Era dessas que a avó queria para licores e compotas.
Chegado a casa com o cesto cheio, imediatamente a minha avó colocava as amoras a macerar em vinho e aguardente, com casca de laranja e uma ou duas colheres de açucar para acelerar a fermentação. Ao fim de 8 dias, no máximo, lá estava ela a apertar com as mãos as que ainda estavam inteiras e depois começava com o processo de coar, ou seja, passar por um pano todo o líquido.
O líquido era colocado em garrafas onde o aguardava um pau de canela. Mais 15 dias na garrafa e estava pronto a ser servido. Que maravilha que era! Às escondidas lá o provei algumas vezes…
Também a vi fazer compotas e geleias para barrar o pão.
Algumas “benzedeiras” da aldeia diziam que o cozimento obtido das folhas da silva era bom para higienizar e curar feridas. Há quem refira que as amoras, que são adstringentes, são ótimas para a pele nutrindo-a e amaciando-a. Há também quem refira que com as amoras se pode fazer uma “máscara” para aplicação facial para esfoliar e combater o acne.
Também está provado pela ciência que as amoras silvestres são ricas em vitamina C, potássio e magnésio, e já não é pouco!
Em decocção de folhas também se podem fazer gargarejos para a inflamação da garganta e para combater as gengivites. Algumas velhotas também me referiram que a mesma água das folhas pode ser bebida para combater a diarreia e ainda serve, também, para lavar e desinfetar “a boca de baixo” das mulheres.
As minhas, apanhadas na Mata da Machada, subtraídas à passarada, têm servido para juntar no iogurte, comer aos punhados, e a minha filha fez crepes onde as colocámos com um pouco de chantilly. Nem vos conto mais, pois é de comer e chorar por mais… para a semana, antes cedo que tarde, lá terei de trazer mais umas dentro da garrafa de hidratação…
A silva na Mata da Machada é um nicho ecológico fundamental para a fauna da mata. É importante ser controlada, mas tem um valor indispensável para o equilíbrio deste ecossistema. Todos, neste momento, se alimentam das amoras silvestres. Em Julho e Agosto é o alimento mais disponível. Até já lá vi um Pombo Torcaz a depenicar amoras silvestres…
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https://agrobaseapp.com/portugal/weed/silvas-amoreira-silvestre
https://pt.wikipedia.org/wiki/Amora-silvestre
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