O Conto: Contar para Dar um Sentido à Vida
O
Conto: Contar para Dar um Sentido à Vida
Recensão crítica:
10 Notas
1. Ignora-se
a época em que foram concebidos. A sua origem é intemporal, perde-se e
confunde-se com o tempo primordial. São fundantes, rituais e simbólicos para
configurar um sentido pessoal e social para a comunidade.
2. São uma
literatura de tradição oral que apenas foi preservada pela repetição, pela
transmissão oral de geração em geração. Foram séculos e até milénios de
acrescento de pontos aos contos. O contador “profissional”, o pai, a avó ou
vizinho animava junto à lareira ou à soalheira a curiosidade do iniciado, do
jovem.
3. Os
contos não foram uma literatura exclusivamente para crianças. Falam do destino,
reproduzem a memória das coisas, contam as venturas e desventuras da
comunidade. Num ambiente de ruralidade e de isolamento provocam a meditação
sobre o destino e os valores inerentes da própria comunidade. Confrontam e
problematizam a pessoalidade e contribuem para a socialização da criança.
4. A
partir do século XVIII ( Os Grimm; Perrault; Andrew Lang; Jorgen Moe e A. C.
Andersen, entre outros...), através da recolha, compilação, escrita e reescrita
direccionam estas histórias comunitárias e societais para a educação e formação
da criança.
5. O
uso e difusão da imprensa na sociedade veio salvaguardar esta literatura
tradicional de expressão oral e fê-la chegar até aos nossos dias. O trabalho de
adaptação, depuração e adequação à sociedade actual e aos valores de uma certa
universalidade de época permitiu evitar o desaparecimento destes contos face às
ameaças de outros meios e estilos de escrita . Assim, sem o esforço referido os
contos teriam desaparecido e todas as pontes de ligação com a memória social e
cultural teriam sido destruídas.
6. É
verdade que a escrita adaptativa destas histórias ganham elegância no papel,
retocam-se e ilustram-se e perdem alguma pureza e originalidade.
7. Sendo
também verdade que alguns contos adaptados que hoje enchem os escaparates de
qualquer livraria são bem menos elegantes e bem mais violentos e cruéis do que
quando eram mediados pelo contador oralmente à fogueira em ambiente familiar ou
grupal.
8. Ganhámos
com a escrita adaptada em duas frentes: temos o prazer de fruir a versão
estética e artística do adaptador e, temos, numa segunda frente, a versão mais
pura e próxima do oral através dos investigadores da etnografia e folclore do
século XIX – XX.
9. As
histórias de lobisomens contadas pelo meu avô à lareira eram arrepiantes e
remetiam-nos para os urros e o bater dos cascos do bicho transformativo na
terra dura da rua e, habitualmente, associava o bicho a uma pessoa conhecida da
aldeia, o que tornava a coisa ainda mais terrifica e feérica.
10. Pela
oralidade, pela escrita, pela reescrita adaptada e readaptada, pela escrita
ilustrada, estes contos contribuíram e contribuem para a criança “lutar para dar um sentido à vida”
Fonte:
COSTA, Isabel Alves & BAGANHA, Filipe (1989). Lutar para dar um Sentido à Vida.
Porto: Edições ASA.
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