A Igreja de Rocamador e a Boda Real de D. Manuel I e D. Isabel

 

A Igreja de Rocamador e a Boda Real de D. Manuel I e D. Isabel


A igreja de Rocamador. Lado frontal

Valência de Alcântara: O local

Valencia de Alcântara é um município do distrito da Serra de São Pedro. Situa-se a oeste da província de Cáceres, na fronteira com Portugal. Valência tem um conjunto histórico chamado Bairro Gótico, constituído por elementos e estruturas patrimoniais marcadamente de estilo gótico.


Interior. Nave central. Abóbodas de cruzaria.

Um pouco de História

Esta cidade foi conquistada aos árabes em 1221, pelas tropas da Ordem de São Julião de Pereiro, primitiva instituição militar que deu lugar à poderosa Ordem de Alcântara. A conquista implicou que fosse concedida à cidade a condição de vila de reguengo.

O conjunto urbano conhecido como Bairro Gótico foi declarado Conjunto Histórico pelo decreto de 18 de março de 1997. É um dos mais interessantes da região no que se refere à construção gótico-renascentista civil. Está situado na parte setentrional da povoação e a habitação mais comum é de dois pisos estreitos e compridos, com fachada em alvenaria caiada e branqueada e vãos de pedra granítica bem lavrada.


Imagem da Judiaria de Valência de Alcântara

Também nas suas portas e janelas, nos gradeamentos de proteção, podemos observar verdadeiras obras de criatividade no âmbito da serralharia artística e decorativa.

Os vãos das portas muitos são em arco ogival, mas também existem portas adinteladas e em arco de volta perfeita. Na fachada do piso inferior há janelas retangulares que se  “fecham” com grades de ferro forjado.

A maioria dos edifícios são construções de aspeto popular, com chaminés características da arquitetura própria da zona, embora outros, mais distintos, apresentem um aspeto solarengo, inclusive nobre, com presença de escudos de armas. Outros elementos da sua arquitetura são as varandas de esquina.

Todo o espaço que constitui o Bairro Gótico esteve rodeado por uma muralha que começava e terminava no castelo, construído sobre uma colina que domina o conjunto. Trata-se de uma construção de traçado irregular com cinco baluartes e uma torre de menagem.

 A Igreja dos Esponsais de D. Manuel I e D. Isabel de Aragão

Imagem de D. Manuel I

Entre os edifícios religiosos, destacam-se a Igreja Paroquial de Nª. Sra. de Rocamador, construída entre os sécs. XV e XVII. Caracteriza-se pela sua planta basilical e três naves cobertas por múltiplas abóbodas de cruzaria com pouca altura, cujo número e qualidade de construção fazem deste edifício um dos mais representativos da arquitetura extremenha.[1]

O Culto da Virgem de Rocamador, Negra, vem do sul de França da ordem de “Rocamadour”. Foi trazido pelos cruzados para a Península Ibérica que vieram lutar contra os muçulmanos. É objeto de culto em várias localidades em Espanha e em Portugal.


Imagem de Isabel de Aragão

Durante os séculos XIII e XV, a cidade  converteu-se num importante mercado económico atraindo  muitos comerciantes, principalmente um importante contingente de judeus, que até  serem expulsos e perseguidos pelos reis católicos, Fernando e Isabel, levantaram o seu próprio bairro com a sua sinagoga. Hoje conservam-se  ainda interessantes vestígios das suas ruas e construções. Basta olhar atentamente para os seus símbolos.

Foi na  igreja de Rocamador  que teve lugar o enlace entre a filha, D.Isabel, dos reis Católicos e  D. Manuel I, o Afortunado, no ano de 1497 em 10 de Outubro.

Todos os anos é recriada a Boda Real de Rocamador. Uma festividade marcante de Valência de Alcântara.

 

Valência de Alcântara e a Fronteira

Com o desenvolvimento da conflitualidade com o reino de Portugal, a cidade  foi  progressivamente reforçando-se de acordo  com o modelo de fortificação abaluartada, para instalação de peças de artilharia defensiva. 

No século XVI, a coroa espanhola assume a propriedade e defesa desta praça, e continua atualizando as  suas estruturas de  defesa devido às frequentes guerras com Portugal. Em 1664, no âmbito das Guerras da Restauração, foi conquistada pelos portugueses à coroa espanhola .[2]

Em 1705-1715 os portugueses voltam a tomar a praça de Valência causando novos destroços no património e especialmente na igreja de Rocamador, cujas abóbodas sofrem  com o fogo de artilharia, rundo parcialmente.

Em 1717, para que  não desapareça o templo,  a cidade de Valência solicita ajuda ao Rei.  A ajuda é concedida e começam os trabalhos de restauro da igreja. A finalização destas obras só acontecem por volta do final do século XVIII. São estas obras que lhe dão a estética final que se ergue ao nosso olhar: Românica, Gótica e Maneirista.



Podemos dizer que quer no século XVII, quer no século XVIII, houve, da parte dos mestres arquitetos envolvidos nas reparações dos danos provocados pelas guerras, uma grande preocupação em nos legar a traça original da Igreja de Rocamador.

No seu interior o que mais se destaca são as obras de arte sacra do mestre Luís  Morales de alcunha “El Divino”. A principal obra é  La Virgem e Los Santos Juanes”. Luís de Morales (1509-1586), extremenho de Badajoz, deixou obra um pouco por toda a Extremadura. Está representado no Museu do Prado com “ A Virgem e o Menino”.[3]



As cidades de fronteira estão sempre sujeitas à conflitualidade, sofrendo as suas populações e o seu património por vezes perdas irremediáveis. Apesar de tudo, Rocamador continua de pé e majestosa. A pedir a nossa presença. Atualmente a relação fronteiriça entre vizinhos é calma e amistosa. Marvão e Valência de Alcântara estão ali de forma relacional com os olhos nos olhos, amparando-se uma à outra.



Agosto de 2020

Domingos Boieiro

Para saber mais:

https://www.dip-badajoz.es/cultura/ceex/reex_digital/reex_LXIV/2008/T.%20LXIV%20n.%203%202008%20sept.-dic/RV001978.pdf [Consultado em 15 de agosto de 2020]

 

Para preparar uma visita:

 Ver: http://www.cadernobymiguel.com/2018/01/valencia-de-alcantara-roteiro-de-pedras.html

Ver: https://www.turismocaceres.org/pt/turismo-cultural/conjunto-historico-de-valencia-de-alcantara

 

 

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