Os 75 anos do Horror da Bomba Atómica: A Bestialidade Humana

créditos: obvious.mag

Agosto de 1945: Hiroxima e Nagasáqui

Nota Prévia

Para que a memória e a história não se apaguem é necessário trazer  estas marcantes datas ao nosso presente. Não se trata de acertar contas com ninguém, antes é preciso relembrar que tal não pode voltar a acontecer. Assinalar estas datas é um pleito de homenagem aos que pereceram, sob a barbárie do homem, e aos familiares que ficaram sem os seu entes queridos.

A bomba atómica veio alterar por completo a correlação de forças em termos geoestratégicos e militares, fazendo dos EUA a maior potencial mundial. No concerto dos países a partir de agosto de 1945 a corrida à tecnologia da bomba atómica entrou numa fase louca. Os blocos ideológicos que se começaram a desenhar com o fim da segunda guerra mundial vão fazer de tudo, espionagem, roubo de documentação, compra de cérebros e aliciamento de cientistas, para obter o conhecimento necessário para produzirem a bomba atómica.

Essa corrida aos armamentos nunca mais parou, tendo em momentos vários, países  com mais energia, maior protagonismo e dominância, e alternando entre si descobertas de novas armas de destruição massiva. EUA, Rússia, Canadá, China, União Indiana, União Europeia, e outros pequenos países, como  Israel, a Arábia Saudita,  o Paquistão, o Irão, o próprio Japão, as Coreias do Norte e do Sul canalizam uma parte considerável dos seus recursos financeiros e materiais para esta louca corrida pelas armas mais mortíferas.

É caso para dizer que a humanidade não aprendeu a lição!

Esta porta de um templo mantêm-se erguida frente a um Hospital de Nagasáqui para que a memória não se apague. Créditos: abrilabril.pt

Final dos anos 30: O Projeto Manhattan

No  final dos anos 30, físicos na Europa e nos Estados Unidos da América aperceberam-se que, em teoria, a fissão do urânio podia ser usada para criar uma arma explosiva extremamente poderosa.


Em agosto de 1939, o físico Albert Einstein enviou uma carta ao presidente americano Franklin D. Roosevelt, elucidando-o acerca destas potencialidades mas, ao mesmo tempo, alertando-o para a possibilidade de outras nações desenvolverem esse projeto, nomeadamente os alemães nazis. O caso foi longamente analisado e explorado pelo Governo americano até que, em 1942, foi lançado o ultrassecreto Projeto Manhattan, sob a direção do brigadeiro Leslie Groves.

A equipa reunida para o efeito trabalhou sobretudo (mas não apenas) em Los Alamos, Novo México, sob a orientação científica do físico J. Robert Oppenheimer, e desenhou e construiu as primeiras bombas atómicas à base de urânio-235 e do experimental plutónio-239.


A primeira explosão atómica, que teve o nome de código "Trinity", testou a bomba de plutónio e realizou-se em Alamogordo, Novo México, na madrugada de 16 de julho de 1945.

O que aconteceu quanto aos efeitos foi tão terrível que os próprios cientistas tomaram consciência da terrível descoberta realizada. Os militares esfregaram as mãos, sabendo que com esta arma o EUA aniquilaria qualquer veleidade de qualquer país.

A energia libertada equivalia a um rebentamento de cerca de 20 mil toneladas de TNT. Convenceu os militares, que acreditavam que uma arma destas apressaria o termo das hostilidades no Pacífico. Mas já se sabia que o Japão tinha  em marcha a sua rendição. O próprio Imperador preparava-se para escrever ao país um texto de rendição. Os serviços secretos americanos tinha conhecimento dessa intenção e o poder político também. Seria necessário o lançamento de tal inferno sobre o Japão? Ou este lançamento era um aviso dos EUA ao mundo?

créditos:  obvious.mag

 

 6 de Agosto de 1945 – “Little Boy” cai em Hiroxima


Na manhã de 6 de agosto de 1945, um avião americano com o nome Enola Gay largava a primeira bomba atómica numa cidade japonesa; Hiroxima foi a escolhida e cerca de 70 a 80 mil pessoas morreram pela explosão daquele engenho de urânio ironicamente batizado com o nome de "Little Boy".
O facto não satisfez os comandos norte-americanos, que optaram por testar o segundo projétil. A vítima, desta vez, foi Nagasáqui: no dia 9 de agosto cerca de 40 mil japoneses morreram com a explosão da bomba de plutónio chamada "Fat Man".
No dia 14 do mesmo mês, o Japão capitulava.[1]

 

9 de Agosto de 1945 – “Fat Man” cai em Nagasáqui

Cidade do Japão, situada na costa ocidental da ilha de Kyushu, possui hoje uma população de pouco mais de 443 000 habitantes (2010).  Soube recuperar do trauma. Será? Renasceu e cresceu. Importante porto de comércio desde há séculos - os navegadores portugueses aportaram aqui no século XVI.

Foi, depois de Hiroxima, a segunda cidade a ser alvo de um ataque nuclear.
A bomba foi lançada a 9 de agosto de 1945, provocando a destruição de grande parte da cidade e a morte de mais de 39000 pessoas.
É, na atualidade, um importante centro industrial, sobretudo na área das construções navais e indústria automobilística.[2]

 

Consequências de Hiroxima e Nagasáqui

As consequências das bombas atómicas lançadas sobre Hiroxima e Nagasáqui foram desastrosas. O poder consumidor das bombas foi além da destruição de lugares e pessoas, atingindo a área da genética. Os efeitos causados fizeram com que os seus sobreviventes transmitissem geneticamente as “lesões” para as próximas gerações. Até hoje, crianças nascem ainda com problemas genéticos causados pela radiação das bombas.[3]

Por causa do facto de a bomba ter explodido no ar, e não em terra, foi possível haver sobreviventes, uma vez que a onda de choque  espalhou-se de forma vertical e não horizontal. Mesmo assim, a devastação e destruição da cidade foi incalculável. Hiroxima era um campo de destroços e poeira tóxica. Já em Nagasáqui, a fumaça atingiu uma altura de mais de 18 quilómetros, e a sua força era imensurável, destruindo qualquer coisa no seu caminho. O calor e o fogo queimaram as pessoas e a Natureza, deixando até hoje o solo envenenado. Também foram lançadas outras bombas na cidade, no entanto, de força consideravelmente menor.[4]


Ainda hoje sentem-se os efeitos causados pelas bombas atómicas. As pessoas que não morreram, foram expostas a uma devastadora radiação. A bomba não somente causou a morte de milhares de pessoas durante a explosão, mas tem sido causa de  morte de pessoas até hoje, devido à radiação.[5]

Os americanos entram na guerra para salvar a humanidade da guerra, basta lembrar o discurso de Roosevelt, em que diz que os EUA entram para ”livrar o mundo  da tirania e da escravidão e da crueldade”[6]. Alguns anos depois, as tropas americanas  utilizam uma arma capaz de destruir a Humanidade. A destruição pelas bombas atómicas são uma realidade que não pode ser esquecida. O seu uso representa a capacidade da bestialidade humana. A bomba atómica foi a arma mais mortífera alguma vez usada.[7]

Terminemos este artigo com uma poesia de enorme  sensibilidade sobre o acontecimento do poeta,  que não ficou indiferente,  Vinicius de Moraes (1913-1980):

Rosa de Hiroxima


Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A antirrosa atómica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada.

 

Domingos Boieiro,  5 Agosto de 2020



[1] bomba atómica in Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2020. [consultado em 2020-08-02 21:04:09]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/$bomba-atomica

 

[2] Nagasáqui in Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2020. [consultado em. 2020-08-02 21:46:09]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/$nagasaqui

[4]  idem

[5] ibidem

[6] Discurso de Roosevelt na assinatura da Declaração de Guerra de 1941


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