Montalvão, Terra de Templários e Mistérios
Arca sepulcral com os símbolos de influência/gramática dos Templários. Já pertencente à Ordem de Cristo. Abandonada no recinto interior do castelo de Montalvão
Montalvão, Terra de Templários e Mistérios
Assim que nos aproximamos da
parte mais elevada da localidade começamos a pressentir a presença da fortaleza,
ali bem no alto da vila. A desilusão apodera-se de nós pelo estado de meio abandono
do recinto da fortaleza que se deixa adivinhar por entre as ervas. No meio
dessas ervas descobrem-se restos de edificações, ainda o que se supõe ser a
cisterna, e ali no meio da praça de armas, a merecer outro tratamento, um arca
sepulcral com os símbolos templários. Ou melhor, símbolos da Ordem de Cristo, fiel depositária dos bens, propriedades, terras, elementos e símbolos, bem como local de refúgio dos templários perseguidos. A cruz de origem pátea/templária e respectiva arca sepulcral, provavelmente, serão já dos tempos da idade moderna. Mas as influências templárias estão bem presentes.
Tudo indica que este castelo
terá sido edificado nos séculos XII-XIII e que faria parte da zona de defesa e
povoamento atribuído à ordem entre o Mondego e o Tejo. Para Além do Tejo, todas
as terras que se avistavam das suas fortalezas de Almourol, Belver e de
Montalvão que fossem conquistadas e povoadas, passariam a pertencer aos
Templários “numa terça parte de tudo”.
Assim, para melhorar a
defensabilidade e expansão do território cristão, castelos, fortalezas,
atalaias e torres de defesa são erguidas, reconstruídas ou reforçadas pelos
templários. Em 1160, o Mestre D. Gualdim
Pais, a partir do rio Nabão, em Tomar, sede dos Templários, traça a estratégia
de crescimento e afirmação para a ordem em Portugal.
A partir de 1169, também os
territórios de Idanha e Monsanto são do seu foro. E, também MONTALVÃO: Ali a
espreitar formas de defender o território, aumentar o poder, reforçar o
povoamento e, quando possível, expandir-se para lá do Tejo, para terras de
Cedilho fazendo recuar os muçulmanos.
A Origem dos Templários
[A Ordem dos Templários, conhecida como os cavaleiros do
Templo, devotados à defesa dos lugares santos da Palestina,
foi fundada em 1119 por Hugo de Payens e mais oito cavaleiros
companheiros de Godofredo de Bulhões, totalizando o número de nove: entre os
quais Godofredo de Saint – Omer e o português Arnaldo da Rocha.
Nove anos depois, em 1128, a Ordem dos
Templários foi confirmada pelo Papa a pedido de S. Bernardo
de Claraval, que lhe redigiu as regras que foram aprovadas no
Concilio de Troyes no mesmo ano e lhe inculcou o seu espírito, tendo para
tal escrito um livro em louvor dos Templários.
Esta foi a única Ordem fundada, não com o intuito de
auxiliar peregrinos e doentes, mas sim para combater de imediato os infiéis.
Nos seus documentos oficiais designam-se com «Fratres militiae Templi
ou Pauperes commilitones Christi Templique Salomonis».
O rei de Jerusalém Balduíno II oferece-lhes para a sua
sede uma ala do seu palácio situado na Mesquita El-Aksa, construída no
lugar onde se situara o antigo Templo de Salomão, de onde tiraram o
nome.
A
Ordem compreendia quatro classes : Os cavaleiros, os escudeiros, os irmãos
leigos e os capelães e sacerdotes (chefes militares, sargentos, soldados,
clérigos). Juravam consagrar a sua vida ao serviço de Deus, defender no
temporal a fé cristã e os lugares santos e combater os seus inimigos, fazendo
votos de pobreza, obediência e castidade.
O
santo abade Bernardo de Claraval descreve-os como « monges – cavaleiros de Deus
» vivendo numa sociedade frugal, sem mulheres, sem filhos, sem terem nada de
próprio. Nunca estão ociosos, nem espalhados fora das suas casas ; quando não
estão em campanha contra os infiéis, reparam as vestes, armas e os arreios dos
cavalos, ou estão ocupados em exercícios piedosos. Detestam os jogos, não se
permitem caçar e banham-se raras vezes; andam negligentemente vestidos com a
cara queimada pelo sol.
Para o combate armam-se por dentro de fé e por fora de ferro,
sem qualquer espécie de ornato e tendo as armas como único enfeite. Toda a sua
confiança está no Deus dos exércitos e, combatendo pela sua causa procuram uma
vitória certa ou uma morte santa e honrosa.
Portugal, terra de templários
Foi principalmente na Península Hispânica, e em particular em
Portugal, nas campanhas de reconquista contra os mouros, que os
Templários mantiveram a sua ação de luta pela propagação da fé cristã.
Como em França e na Inglaterra não tinham as mesmas condições
dedicaram-se sobretudo à atividade financeira, o que os tornou
odiosamente vítimas da inveja dos grandes senhores feudais e mesmo de
Reis. Para tal, contornavam as disposições da igreja que proibiam os
cristãos de exercer tal atividade.
Foram até banqueiros do Papa, de Reis, de
príncipes e de particulares. O seu grande poderio financeiro colocou-os mais
tarde em conflito com a maioria dos soberanos, ao pretenderem
estes defender os seus interesses e dos seus vassalos, que com
jactância cobiçavam as suas riquezas, denunciavam publicamente às mais
altas instâncias eclesiásticas, a duvidosa origem lícita dos bens dos
Templários.
Por assim dizer, eram um estado dentro doutro estado,
que originavam muitas vezes graves perturbações de prosperidade
económica no entender dos ditos soberanos.[1]
Montalvão, terra de templários
Castelo de
Montalvão
[..."Há poucos
vestígios das fortificações, que cingião antigamente a Villa, das quaes
se dis, que forão arrazadas na campanha de 1704 porem ainda no extremo
meriodional da povoação a Cidadella ou Castello, que um reduto (de) baze circular,
ou antes elliptico, que terá oitenta passos de cumprido e quarenta e
cinco ou cincoenta de largo. elle não he terraplanado para que a Artilharia
possa laborar sobre as suas débeis muralhas, as quaes tem bastante altura da
parte da campanha, e são inteiramente descubertas até ao seu pé e sem fossos,
Da parte da Villa, as muralhas são baixas, e quazi incostada a ellas, no seu
lado exterior, fica a Igreja Matriz, a qual he ainda coberta por hum pequeno
muro que se une pelas extremidades com a do reducto. Neste se achão desmontados
e comidos pela ferrugem uns canhões de ferro de muito antiga construção. Esta
obra ainda quando fosse reedififiada e guarnecida não poderia só por si, fazer
huma grande defensa, pois não imbaraçando o acesso da Villa pelos outros lados,
he mui debil e acanhada para resistir a hum ataque qualquer formado da parte da
mesma Villa.
Apezar da ruina
desta pequena forificação que atualmente serve para hum pomar, se conserva
ainda o costume de enviar para ali hum Governador militar permanente, e o
actual tem a patente de Sargento-mor."...(sic) (1)
Classificação
Arquitetura
militar, medieval. Castelo de planimetria poligonal, ovalada, com duas torres e
cisterna, estando classificado como Monumento de Interesse Público .
Por conseguinte, a
sua área de implantação está classificada como “Zona Especial de
Proteção” (abreviadamente ZEP ou ZP), sendo uma área ou zona "non
aedificandi".
Breve descrição
Montalvão, devido à
sua particular localização geográfica, desempenhou um papel estrategicamente
muito importante nos primórdios da monarquia portuguesa. Efetivamente, em
plena Reconquista Cristã da península
Ibérica (iniciada em 718 nas Astúrias por Pelágio e sendo dada como
terminada em toda a Península Ibérica em 1492), o castelo integrava a
chamada Linha do Tejo, visando a proteção da linha de
fronteira com Castela. Apesar dessa importância estratégica não se conhecem
informações acerca da evolução histórico-arquitetónica da sua estrutura.
A necessidade de
proteção deste sector da fronteira, aliada à pouco efetiva densidade
populacional, determinou que a localidade se instituísse como sede de um
território vital para a sobrevivência da ordem cristã na região. Por isso, não
admira que, depois de primeiramente a Comenda de Montalvão ter sido atribuída à
Ordem Templária, após a extinção desta, tenha sido Comenda da Ordem de Cristo,
instituição que terá estado na origem do castelo, tal como o conhecemos ainda,
cujas muralhas, embora arruinadas, se encontram, contudo, bem definidas.
A sua construção
tem sido apontada no reinado de D. Dinis (1279-1325), mas o monumento carece
ainda de um estudo arqueológico mais vasto que permita extrair conclusões
acerca das fases de ocupação por que passou até aí. O certo é que o castelo de
Montalvão está expressamente mencionado em diversas e muito empolgantes obras
referentes à Ordem Templária, sendo um de muitos que pertenceu a esta poderosa
Ordem religioso-militar (a primeira ordem militar da História), com enorme
prestígio na cristandade. O mapeamento dos inúmeros castelos pertencentes aos
Templários evidencia justamente o de Montalvão, fazendo inclusive parte dos
"Itinerários ou Rotas Templárias", conforme se pode ver através do
item alusivo neste portal.
A fortaleza
baixo-medieval, de formato semi-oval, não terá sido uma obra de grande
envergadura, na medida em que, nos inícios do século XVI, Duarte d'Armas,
desenhou-a (Livro das Fortalezas-1509, páginas 50;51 e que constitui o
registo do levantamento efetuado por aquele escudeiro de D. Manuel I
(1495-1521), como tendo apenas uma muralha, sem qualquer torre anexa,
fazendo-se o acesso ao espaço intra - muros por porta única. Essa entrada ou
porta foi reconstruída um século depois, por se apresentar arruinada,
adquirindo então a forma clássica de lintel reto entre pilastras suportando uma
arquitrave, que ainda hoje se mantém, contrastando com o aparelho miúdo e
irregular com que foi executada a cerca que define o castelo.
No interior do
castelo encontra-se uma cisterna, e as muralhas, tal como os respetivos e
peculiares alicerces, estão construídos em xisto, cuja predominância na região
a isso forçosamente conduziu.
As muralhas
originais e as que restam estão suportadas por uma plataforma sobrelevada,
formada por fiadas de aparelho ou pedras de xisto sobrepostas em espinha, tal
como ilustrado nas fotos correspondentes.
No interior do
castelo, em plena antiga praça de armas, encontra-se uma arca sepulcral em
pedra aparentemente granítica, de formato retangular, com uma das faces lavrada
com elementos vegetalistas e a cruz de Cristo ao centro . ][2]
Fim da Ordem dos
Templários
[Após a perda
definitiva de Jerusalém, em 1291, os Cavaleiros Templários perderam a sua razão de existir. Promovem uma reunião em
Chipre para eleger o novo grão-mestre da Ordem e decidem partir de volta para
suas casas-religiosas nos respetivos países de origem.
Nesta época, a
Ordem dos Templários, já está inserida na sociedade feudal e cobra impostos de
servos e senhores, como qualquer ordem religiosa normal. O próprio Felipe IV,
rei da França, contrai empréstimos junto dos cavaleiros templários a fim de
pagar aos funcionários régios e manter o
exército.
Assim,
impossibilitado de pagar as suas dívidas aos templários e, também com pouca
vontade de o fazer, o rei Felipe IV, passa a temê-los, pois a Ordem reúne o
poder militar, económico e religioso numa só organização. O Rei inicia
correspondência com o Papa Clemente V, fazendo pressão e pedindo o fim
da ordem, porque esta ameaçava o poder temporal do Rei.
Começa, então, um
grande debate histórico entre o Poder Espiritual e Poder Temporal. Quem teria
competência para julgar uma ordem religiosa: o Rei ou o Papa? Cansado de
esperar a decisão de Clemente V, o rei Felipe IV, manda prender os cavaleiros
templários e confiscar todos os seus
bens em 13 de outubro de 1307. Começa uma purga e perseguição feroz contra os
Templários. O Rei manda prender, matar e confiscar o património dos Templários.
O processo contra
os cavaleiros templários dura sete anos. Devido às pressões do rei francês, o
Papa Clemente V extinguiu a Ordem em 1312. Dois anos mais tarde, Geoffroy de
Charnay e Jacques de Molay (o último grande mestre da Ordem do Templo), são
condenados à fogueira, marcando o fim dos Templários.
Os cavaleiros que
conseguiram escapar das torturas e da fogueira foram absorvidos por outras
ordens religiosas, especialmente a dos Hospitalários que compartilhavam ideias
e regras idênticas. Outras refugiaram-se em locais recônditos. Outros
desapareceram sem deixar rasto, dissimulando a sua existência.
No entanto, a Ordem
dos Templários sobreviveu em Portugal, sob proteção do rei Dom Dinis com o nome
de Ordem de Cristo. Algumas sociedades secretas como os maçons também
reivindicam serem herdeiros dos Templários.][3]
Este facto, tem
alimentado a ideia de que os bens, um grande tesouro em ouro, joias de todo o tipo, moedas e relíquias
dos templários foi escondido em Portugal em local inacessível. Este mito existe
e tem alimentado lendas, histórias, estórias e muitas explorações ao longo dos
tempos: O MITO DO TESOURO TEMPLÁRIO.
Quem sabe não se
encontra ali no meio daquela praça de armas em Montalvão, naquele humilde chão coberta de ervas. Talvez o grande Tesouro dos Templários esteja num local
de majestosa simplicidade e quietude silenciosa. Talvez esteja ali defronte
para Cedilho…
Mais um local que
passa a residir no coração do viajante para nunca mais ir embora.
[1] Ver: https://www.vortexmag.net/portugal-um-pais-construido-pelos-templarios/
[Consultado em 15 de agosto de 2020]
[2] Ver: http://www.jfmontalvao.pt/index.php/espaco-visitante/acervo-patrimonial/castelo-de-montalvao
[Consultado em 15 de agosto de 2020]
[3] Ver: https://www.todamateria.com.br/templarios/
[Consultado em 15 de agosto de 2020]
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